O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Prova de morte

Uma pessoa não se cansa de ler o discurso em que o político Cavaco Silva quis fazer prova de vida. A delícia começa logo na primeira frase: "Na semana passada, fomos confrontados, de forma inesperada, com uma grave crise política." Logo agora, que os partidos da coligação andavam a dar-se tão bem e nem tinha havido dois orçamentos inconstitucionais. E os resultados da governação? Joia. Aliás, os portugueses não podiam estar mais satisfeitos: tudo como deus com os anjos - é ver aquela salva de palmas na tomada de posse (ou será coroação?) do patriarca.

O segundo parágrafo também encanta: os portugueses, diz o político belenense, ficaram a saber o que sucede "quando se associa uma crise política à crise económica e social". Faltou acrescentar: "Os que nasceram depois de março de 2011, ou andaram perdidos no espaço." Ah, mas espera: esta crise é diferente das outras. E é por isso que não deve haver eleições antecipadas em setembro: porque teríamos um Governo de gestão durante dois meses e se isso sucedesse o mais certo, apesar de estar tudo tão no bom caminho, era levarmos com um segundo resgate (levar com o primeiro foi ginjas), além de que há "grande tensão e crispação entre as forças partidárias", pelo que seria difícil sair das urnas um Governo com consistência e solidez". Portanto, que sugere este político que foi dez anos PM depois de uma dissolução do Parlamento pelo então presidente Soares, que é PR há sete tendo feito tudo para que Sócrates se demitisse, e que ainda na semana passada, entre a demissão de Gaspar e a de Portas, certificou que quem manda governos abaixo é e só pode ser a Assembleia da República? Que deve haver eleições antecipadas não dentro de dois mas de 11 meses. E um acordo entre os partidos do Governo e o PS quanto ao rumo a seguir nos próximos anos - para isso a "grande tensão e crispação entre as forças partidárias" já não é problema, portanto.

Já quase tudo foi dito sobre esta proposta de um político que fala dos "agentes políticos" como se não fosse um deles; que andou os últimos dias a gozar com Passos e Portas (sendo bem merecido, é abjeto); que na prática demitiu o primeiro-ministro ao mesmo tempo que afirma manter o Executivo "a plenitude das funções"; que lançou o País numa campanha eleitoral de um ano apesar de querer transformar as eleições numa farsa; que trata dois partidos com assento parlamentar e mais de 20% dos votos como irrelevantes; que é difícil imaginar um cenário de maior confusão e instabilidade que o resultante deste pronunciamento. Mas talvez o mais saboroso de tudo seja que, ao propor o recurso a "uma personalidade de reconhecido prestígio que promova e facilite o diálogo" entre partidos, Cavaco esteja a assumir que não pode ser ele a fazer esse papel - que é o de Presidente. Não era que não soubéssemos; não sabíamos era que ele tinha noção.

por FERNANDA CÂNCIO, no DN

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