O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Remodelar sem mudar


Vivem-se semanas de alta intensidade. Depois de uma moção de censura, da demissão de Relvas e da decisão do TC, a tempestade continuou com um polémico despacho de Gaspar, as negociações de Dublin e, por fim, a mini-remodelação do Governo. É justamente sobre esta última que me debruço hoje, pela irónica razão de que nada vai mudar.
Na remodelação agora operada pelo PM foi contemplada uma substituição. Miguel Relvas por Marques Guedes é uma troca de baixo risco, conservadora e compreensível, que apenas peca por tardia. Nada a dizer.
Mas houve uma novidade maior. Para os que esperavam o reconhecimento do óbvio, os megaministérios da Economia e Emprego e da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território não foram divididos, o que significa que continuarão inoperantes. A surpresa foi um novo ministro, designado adjunto e do Desenvolvimento Regional, que tutelará a comunicação social, os fundos comunitários e as autarquias locais. É aqui que surgem as minhas mais profundas dúvidas.
Numa primeira leitura, a ideia de um ministro dedicado ao desenvolvimento regional é em si positiva e traz alguma esperança. Contudo, este movimento de Passos Coelho tem uma envolvente plena de indícios suspeitos.
O primeiro indício é a disputa que vinha sendo travada pelo controlo dos fundos comunitários. O ministro da Economia, politicamente fraco e desconhecedor dos meandros da governação, nunca foi capaz de se impor. Perdeu primeiro para o ex--secretário de Estado Almeida Henriques. Com a saída deste do Governo e a opção de Passos Coelho de não o substituir, fui daqueles que de imediato denunciaram a retirada dos fundos comunitários da Economia para as Finanças.
O segundo indício é o perfil escolhido para o novo cargo. Miguel Poiares Maduro está fora da realidade portuguesa pelo menos desde 2003, com passagens pelo Tribunal de Justiça da União Europeia e pelo Instituto Europeu Universitário de Florença. Tem um currículo brilhante como jurista e professor. Mas não tem absolutamente nada a ver com o desenvolvimento regional. A atribuição de fundos comunitários a Portugal tem o objetivo explícito e inequívoco de promover a coesão, contribuindo para um processo de convergência das regiões mais pobres do país com a média europeia. Tutelar o desenvolvimento regional não é gerir a folha da alocação de fundos. É desenvolver estratégias, desenhar programas e fazer opções em domínios como as infraestruturas de apoio à economia e à sociedade, a eficiência coletiva, a redução dos custos de contexto, etc. E, para isso, exige-se o conhecimento aprofundado do território, dos seus agentes e dinâmicas.
Um terceiro e demolidor indício é o desprezo a que o desenvolvimento regional foi votado por este Governo. Da esquerda à direita, das elites às bases, das empresas aos trabalhadores, da academia à Comunicação Social, existe um vasto consenso na ideia de que este é o mais centralista de todos os governos do pós-74. Como se explica que uma região da dimensão e importância do Norte, com uma poderosíssima força exportadora e, contudo, plena de problemas ao ponto de ser a mais pobre de Portugal, tenha esperado meses em 2012 pela nomeação do presidente da CCDRN e esteja atualmente com esse cargo vago, sem qualquer pressa ou interesse do Governo de o ocupar? Para os mais desatentos, a letra D na sigla CCDRN significa, imagine-se, Desenvolvimento. Ou seja, o caminho para o desenvolvimento regional em Portugal traça-se pela nomeação de um ministro em Lisboa, podendo a região esperar. Inexplicável.
Esta combinação de indícios reforça o meu ceticismo e leva-me a crer que, na verdade, nada mudará. Dito de outro modo, a trajetória ensaiada de deslocar o centro de gravidade da decisão sobre os fundos comunitários da Economia para as Finanças e das Regiões para a Capital continuará a fazer o seu caminho, tal como planeado. O novo ministério, bem perto do PM e das Finanças, é apenas mais uma peça de uma estratégia há muito tecida, tributária de um desígnio ideológico a que nenhuma inoportuna estatística das assimetrias regionais poderá fazer frente.

José Mendes, no JN

Gestores da dívida pública ganham mais que Passos Coelho


Forum das Regiões: Ora aí está a austeridade que Passos Coelho preconiza, uns morrem à fome, outros, os ditos especialistas, auferem ordenados chorudos. Uma vergonha, para este governo e para este partido...

O Governo autorizou, esta quarta-feira, salários mensais até 10 mil euros para o presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, João Moreira Rato, e até oito mil euros para os dois vogais. Salários que são quase o dobro do que aufere o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

O primeiro-ministro tem um salário de 4892 euros, metade do que vai receber o presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, João Moreira Rato, autorizado pelo Tesouro a receber uma remuneração mensal de até 10 mil euros.
Os vogais da IGCP também terão um rendimento que supera o do primeiro-ministro e o de Cavaco Silva (6523 euros), ao serem autorizados a receber salários de 7 a oito mil euros por mês.
A autorização foi assinada há uma semana pela secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís de Albuquerque, e foi publicada em Diário da República com efeitos retroativos a 2 de setembro do ano passado.
"É autorizada a opção pelo valor correspondente à remuneração média dos últimos três anos", lê-se no despacho publicado, que atribui à vogal Cristina Casalinho uma remuneração mensal de 6998,45 euros e ao vogal António Pontes Correia 7960,49 euros.
Num outro despacho também publicado esta quarta-feira, o Governo define que as remunerações dos membros do conselho de administração do IGCP "correspondem às remunerações definidas para os conselhos de administração das empresas classificadas no Grupo A", que empregam mais que 1500 trabalhadores e um volume de negócios superior a 100 milhões de euros.
Neste diploma, o Governo justifica a autorização dada ao IGCP com a "especial complexidade técnica, exigência e responsabilidade" exigíveis ao conselho diretivo desta Agência e lembra que desde que foi criado, em 1996, estes titulares "tiveram remunerações e regalias equivalente às mais elevadas legalmente admitidas para os membros dos conselhos de administração das empresas públicas".
Em agosto do ano passado o IGCP foi transformado em empresa pública, sob a forma de entidade pública empresarial.

Fonte: Jornal de Notícias

Juros mais baixos resultam do BCE e não da austeridade, diz Paul Krugman


Fórum das Regiões: Será que o Homem, que até já foi Nobel da Economia é "burro", ou burros são o Coelho e o Gaspar?

O economista e prémio Nobel Paul Krugman atribui a descida dos juros da dívida portuguesa à intervenção do Banco Central Europeu e não ao sucesso da política de austeridade em curso no país.

"Esta descida dos juros não tem nada a ver com a austeridade", sustenta Paul Krugman no seu blogue no "New York Times", atribuindo-a, antes, à intervenção do Banco Central Europeu (BCE) na compra de dívida soberana dos países em dificuldades, nomeadamente Portugal.
Neste contexto, o economista critica a Comissão Europeia - que, na segunda-feira, elogiou a determinação do Governo português em prosseguir a política de austeridade apesar do chumbo do Tribunal de Constitucional a algumas das medidas impostas - quando esta reclama para si e para a sua política os créditos desta descida dos juros das dívidas soberanas e alega que um abrandamento da austeridade levará a nova escalada.
Para Paul Krugman, esta posição da Comissão resulta do facto de a descida dos juros da dívida ser "o único resultado positivo que tem para apresentar após três anos de austeridade".
Segundo sustenta o prémio Nobel da Economia, o "risco moral" inicialmente apontado pelos defensores da austeridade relativamente à intervenção do BCE na compra de dívida soberana - por considerarem que esta "ajuda" poderia levar os países em dificuldades a "relaxarem no aperto do cinto" - acabou por se concretizar, mas relativamente aos próprios apoiantes da austeridade.
"Realmente a intervenção do BCE 'ajudou' algumas pessoas, levando-as a prosseguir as suas más políticas. Mas essas pessoas não são os governos endividados, são os próprios membros da troika (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e BCE), que usam o argumento da descida dos juros da dívida para alegarem que a austeridade está a resultar", afirma Krugman.
No domingo, também no seu blogue no "New York Times", Paul Krugman, que tem repetidamente criticado a estratégia europeia de resposta à crise na zona euro, instou os portugueses a "dizer não" a novas medidas de austeridade.

Fonte: Jornal de Notícias

Traz os Montes/PS-CDU-Bloco


1.Consultas de médico e dentista, roupa, alimentos e orientações nutricionais para famílias carenciadas em troca das boas notas de alunos. Está a acontecer em Trás-os-Montes por força de uma iniciativa que não dependeu do Estado mas sim do apoio generoso das empresas locais e da iniciativa fundadora do padre Amadeu Castro. Esta aventura social batizada de "Bagos d'Ouro" foi trazida na segunda-feira por este jornal.
A "Bagos d'Ouro" apoia 76 famílias e apoiará muitas mais no futuro porque as histórias felizes tendem a atrair mais gente, sobretudo quando elas puxam pelo mérito. Tem, no entanto, uma face crua da nossa realidade: aos 9 ou 10 anos estes pequenos alunos já sentem o peso da responsabilidade - melhor vida para a família depende dos resultados escolares. E a verdade é que crianças com esta responsabilidade em cima dos ombros, tão cedo, perdem uma boa parte da inocência e felicidade em função de uma 'obrigação': estudar muito. E o que é "estudar muito" ou ter "boas notas" aos 9 anos? É uma forma de combater a pobreza e as dificuldades de um ambiente familiar deprimido. Aprender cedo o preço do mundo é a dupla face do "Bagos d'Ouro". Mas a vida é assim: não se pode ajudar todos. E há que lutar desde o berço. Além disso, quando um destes miúdos falha, há alguém do Bagos para ajudar.
Mais Bagos, mesmo que não sejam de ouro, precisam-se.
2. Alguém prometeu a Trás-os-Montes a finalização do túnel do Marão - mais uma promessa (em ano eleitoral)? É verdade, é apenas uma estrada, mas pode ser quase tudo. Bastará recordarmo-nos do que era o Alentejo antes e depois da autoestrada (A6) para se perceber da importância da transferência de riqueza que acontece em localidades que passam a ter bons acessos. E Trás-os-Montes é o Alentejo do Norte e registará um enorme crescimento da riqueza porque tem natureza ainda bem conservada, um grande potencial agrícola e gente boa com capacidade de resiliência testada desde há séculos.
Há um ponto essencial para o seu futuro: a natureza é o principal trunfo daquelas terras. E é exatamente por isso que ficarão na história os crimes perpetrados pelos atuais autarcas transmontanos quando venderam por 30 moedas o rio Sabor e o Tua para duas mastodônticas e evitáveis barragens da EDP. Os dois colossais muros de betão cravados na paisagem, por mais que sejam de Souto de Moura (no Tua) ou sem assinatura (no Sabor) são um monumento à curta visão de homens que ignoram o turismo e a natureza selvagem como o principal factor de diferenciação da região. Não há turismo sem comboio, natureza intensa, paisagem e memória. Ninguém vem de avião para tomar banho em barragens... Veja-se o Alqueva e a cada vez mais degradada qualidade da água ou de como, afinal, os projetos de turismo de milhões e milhões vão arrancar... arrancar... e afinal, nada.
Ainda estão a tempo de parar o Tua, apesar da maldição que já caiu sobre o Sabor. Para isso era preciso haver senso. E vergonha.
3. Na moção de censura de ontem, no Parlamento, ficou claro uma coisa: a Esquerda parece preparada para se unir. Ou é tudo a fingir? Depois do dia de ontem o PS, CDU e Bloco têm a obrigação moral de se entenderem e apresentarem-se ao presidente da República dizendo que são uma alternativa ao Governo - e exigirem eleições. Tudo o resto é retórica. Na sequência disso, o presidente da República tem a obrigação de convidar o primeiro-ministro a sair e convocar eleições, ou evitá-las gerando dentro do PSD um processo de mutação genético. Há um PSD com ideias que vai de Cadilhe a Pacheco Pereira ou a Rangel que podem evitar o caos. E coragem?
4. A queda deste Governo não decorre do que se passa no Parlamento, mas fora dele. Como ontem este jornal noticiava, o ministro das Finanças fez as contas para 2013 pressupondo um crescimento do PIB de 400 milhões de euros. Como é óbvio (e já o era há seis meses) o PIB vai cair - mil milhões é o que se estima para já. Quem o diz é a parlamentar Unidade Técnica de Apoio Orçamental.
Perante os exemplos diários, claros, como este, não dá para continuar a acreditar nos pesadelos cor-de-rosa anunciados regularmente por Gaspar. São sempre piores do que ele diz.

Daniel Deusdado, no JN

Os perigos das autárquicas


A eleição autárquica que aí vem não é igual às anteriores: o jogo será realizado em condições muito específicas, bem capazes de alterarem resultados que, à partida, estariam decididos mesmo antes de a contenda começar. Basta olhar para os sinais que todos os dias chegam do inquieto povo.
Sendo verdade que ao mínimo sinal de crise e dificuldade há quem clame por um Salazar que ponha "isto" na ordem, não é menos certo que cresce todos os dias o número dos que, na mesma linha de pensamento, desejam um governo de não políticos, ou mesmo um governo que escorrace os políticos. A tendência é para o fenómeno crescer, na exata medida em que há uma correlação evidente entre a dimensão da crise e a dimensão destes (perigosos) fenómenos.
O que tem isto a ver com as eleições autárquicas? A consequência disto é o voto de protesto, justamente contra a política, os políticos que estão e os que estão para chegar. Nas freguesias urbanas das pequenas, médias e, sobretudo, grandes cidades ele far-se-á sentir com especial vigor, prejudicando mais os candidatos mais próximos de quem manda: a coligação PSD/PP.
Há mais duas consequências indesejáveis, mas expectáveis, que os tempos de crise aguda provocarão nas autárquicas.
Primeira: muito provavelmente, a abstenção elevar-se-á para níveis que ajudam ao raciocínio dos que desejam o regresso de um Salazar.
Segunda: estas eleições tenderão a agudizar a divisão entre autarcas que teriam tudo a ganhar se conseguissem lutar democraticamente pelo posto que desejam, mas mantendo-se unidos nas questões que são estruturais para os seus concelhos, para os seus distritos e para as suas regiões. E a agudizar porquê? Justamente porque o caráter excecional deste ato eleitoral conduzirá ao extremar de posições. Ora, posições extremadas são o oposto de soluções consensualizadas.
Sucede que nunca como agora os autarcas precisaram - e precisarão - de estar tão unidos. A política de confronto desenhada nos gabinetes de Miguel Relvas e de Vítor Gaspar, num certo conluio com o gabinete de Assunção Cristas, aconselham o estudo dos dossiês e a preparação de respostas firmes.
No Alto Minho já se percebeu o alcance da coisa: à trapalhada da junção de freguesias feita a regra e esquadro junta-se o esvaziamento político das comunidades intermunicipais e a tentativa de gestão centralizada de fundos comunitários, apenas para citar três exemplos do que está em causa.
Hão de dizer-nos que a discussão destes e doutros temas acontece num ano de eleições porque calhou. Acreditará quem quiser. Na política não costuma haver coincidências assim tão certeiras. E lá diz o provérbio: quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte. Ora, quem está, neste caso, a repartir é o Governo. Um perigo, um perigo...

Paulo Ferreira, no JN