Novembro e dezembro de 2008 foram meses
marcados pela detenção de dois vigaristas a grande escala. Nos Estados Unidos
da América, Bernard Madoff fez tremer Wall Street e o FBI deitou-lhe a mão após
provocar um rombo da ordem dos 65 mil milhões de euros usando um esquema de
pirâmide em fundos de investimento, alimentado por uma série de gente
gananciosa.
Em Portugal, sob suspeita de burla, fraude
fiscal e branqueamento de capitais, Oliveira e Costa, até então todo-poderoso
presidente do Conselho de Administração do Banco Português de Negócios (BPN),
foi também detido.
As coincidências terminam aqui.
Quatro anos e poucos meses depois, roçará o
ridículo a tentativa de comparar consequências para os autores das falcatruas.
O sistema de justiça americano foi célere e
cortou rente quaisquer hipóteses de malabarismos a Bernard Madoff. Em junho de
2009, isto é, sete meses após ter ido parar com os ossos a um estabelecimento
prisional, foi condenado a 150 anos de prisão! E atrás das grades está.
Em contraponto, o que aconteceu a Oliveira e
Costa - e já agora a uma série de gente que sob a sua cobertura também encheu
os bolsos?
É imprevisível uma sentença para a ruína
provocada no BPN e de cujos prejuízos o povo português paga uma fatura elevada
pela via da nacionalização - já vai em quatro mil milhões de euros e, upa!,
upa!, pode subir até aos sete mil milhões.
A boçalidade de Oliveira e Costa, patente num
mastigar de boca aberta e sorriso cínico numa comissão parlamentar, está longe
de ter um final. O julgamento tem centenas de testemunhas, arrastar-se-á por
tempo indeterminado nos tribunais, e os acólitos de uma vigarice inqualificável
vão, também eles, sendo acusados num sistema de conta-gotas. Uma vergonha! Um país incapaz de ter um sistema de justiça
no qual os prevaricadores não sejam punidos em tempo razoável é, em certa
medida, um sítio pouco recomendável.
O caso BPN - como outros de escala igualmente
não negligenciável - legitima todas as suspeitas dos portugueses sobre a
existência de um esquema no qual os vigaristas mais poderosos se safam das
malhas da lei, em contraponto aos pobres e remediados.
Madoff já está a pagar pelos crimes cometidos.
Oliveira e Costa continua à solta - ele e o bando que o rodeou e dele se
alimentou, obtendo igualmente benesses ilícitas.
Um país assim, insiste-se, não augura nada de
bom. É um país entregue em muitos setores a corporações nas quais os
competentes existem, mas são uma minoria; pior, são constituídas por demasiados
medricas e bardamerdas.
Fernando Santos, no JN