O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


terça-feira, 12 de março de 2013

Caso BPN, medricas e bardamerdas


Novembro e dezembro de 2008 foram meses marcados pela detenção de dois vigaristas a grande escala. Nos Estados Unidos da América, Bernard Madoff fez tremer Wall Street e o FBI deitou-lhe a mão após provocar um rombo da ordem dos 65 mil milhões de euros usando um esquema de pirâmide em fundos de investimento, alimentado por uma série de gente gananciosa.

Em Portugal, sob suspeita de burla, fraude fiscal e branqueamento de capitais, Oliveira e Costa, até então todo-poderoso presidente do Conselho de Administração do Banco Português de Negócios (BPN), foi também detido.

As coincidências terminam aqui.

Quatro anos e poucos meses depois, roçará o ridículo a tentativa de comparar consequências para os autores das falcatruas.

O sistema de justiça americano foi célere e cortou rente quaisquer hipóteses de malabarismos a Bernard Madoff. Em junho de 2009, isto é, sete meses após ter ido parar com os ossos a um estabelecimento prisional, foi condenado a 150 anos de prisão! E atrás das grades está.

Em contraponto, o que aconteceu a Oliveira e Costa - e já agora a uma série de gente que sob a sua cobertura também encheu os bolsos?

É imprevisível uma sentença para a ruína provocada no BPN e de cujos prejuízos o povo português paga uma fatura elevada pela via da nacionalização - já vai em quatro mil milhões de euros e, upa!, upa!, pode subir até aos sete mil milhões.

A boçalidade de Oliveira e Costa, patente num mastigar de boca aberta e sorriso cínico numa comissão parlamentar, está longe de ter um final. O julgamento tem centenas de testemunhas, arrastar-se-á por tempo indeterminado nos tribunais, e os acólitos de uma vigarice inqualificável vão, também eles, sendo acusados num sistema de conta-gotas. Uma vergonha! Um país incapaz de ter um sistema de justiça no qual os prevaricadores não sejam punidos em tempo razoável é, em certa medida, um sítio pouco recomendável.

O caso BPN - como outros de escala igualmente não negligenciável - legitima todas as suspeitas dos portugueses sobre a existência de um esquema no qual os vigaristas mais poderosos se safam das malhas da lei, em contraponto aos pobres e remediados.

Madoff já está a pagar pelos crimes cometidos. Oliveira e Costa continua à solta - ele e o bando que o rodeou e dele se alimentou, obtendo igualmente benesses ilícitas.

Um país assim, insiste-se, não augura nada de bom. É um país entregue em muitos setores a corporações nas quais os competentes existem, mas são uma minoria; pior, são constituídas por demasiados medricas e bardamerdas.


Fernando Santos, no JN

Sondagem mostra um Governo de costas voltadas para o povo


Fórum das Regiões: Há muito que o "mundo" político está à parte do "mundo" real dos cidadãos. Veja-se que, quase ao mesmo tempo que o Presidente da República alertava para o que significavam as ditas manifestações, o primeiro ministro dizia que não governava ao sabor delas. Julgo que este, só não disse afinal de contas o quê que "estava a governar"!

O Governo vai cortar no Estado Social, quando deveria fazê-lo nas Parcerias Público Privadas e nos juros da dívida. Uma sondagem para o JN revela um divórcio claro entre a austeridade com que o Governo ameaça e os cortes que os portugueses defendem.


As manifestações de sábado passado deram um sinal claro de falta de sintonia entre quem governa e quem é governado. Mas outra prova desse divórcio são os dados recolhidos por uma sondagem da Universidade Católica para o JN.

Perante o anúncio de cortes de quatro mil milhões de euros nos gastos anuais do Estado, os portugueses têm respostas diferentes, quando confrontados com as áreas onde acreditam que o Governo vai cortar e as áreas onde acham que deveria cortar.

Saúde (61%), Educação (54%) e Segurança Social (52%) serão os serviços mais afetados, apontam. Sendo que a energia do Governo deveria estar a ser direcionada para obter poupança nas Parcerias Público Privadas (57%) e nos juros da dívida (36%).

Como explica a analista Cristina Azevedo, os portugueses já perceberam que os interesses dos parceiros privados nas PPP e os interesses da Troika serão "ferozmente defendidos" (ver opinião).

O único ponto de contacto entre os portugueses e o Governo está nos cortes na área da Defesa: 33% defende que se façam, 34% pensa que se fará. Um dado confirmado quando se faz uma pergunta mais concreta sobre o número de militares no ativo: 43% dos portugueses defende uma diminuição, contra 49% que quer a sua manutenção ou até o seu aumento.


Fonte: Jornal de Notícias

O Rio é fino como um alho


Ó! meu Porto onde a eterna mocidade diz à gente o que é ser nobre e leal, teu pendão leva o escudo da cidade que na História deu o nome a Portugal... Confesso que sinto um arrepio na espinha quando, a sublinhar a entrada em campo da nossa equipa, a instalação sonora passa o hino do F.C. Porto, cantado pela voz límpida de Maria Amélia Canossa e tocado pela London Philharmonic Orchestra.

Não é muito racional, mas penso que todos - portistas ou salgueiristas, benfiquistas ou sportinguistas - sabemos que o futebol não é o território da razão, mas da emoção e da paixão.

Maria Amélia Canossa faz parte de um geração de cançonetistas, como Tony de Matos e Simone de Oliveira, que marcaram o panorama musical do Portugal dos anos 60. Quando recordo Tony de Matos, vêm-me à memória "Só nós dois" (...é que sabemos quando nos damos bem). Falam-me de Simone de Oliveira e desato logo a trautear "Desfolhada" (eira de milho, luar de agosto, quem faz um filho, fá-lo por gosto) com a minha voz desafinada.

O hino do Porto é a minha reação pavloviana ao nome da Maria Amélia Canossa, que Rui Rio planeia distinguir quando no 25 de abril distribuir pela última vez as medalhas da cidade.

Uma escolha algo estranha por vir de um político que a primeira coisa que fez após ser eleito presidente da Câmara foi levar à cena um western de 4.ª categoria, com o Porto a fazer de cidade selvagem do Faroeste, reservando para ele o papel do xerife que enfrenta um bando de malfeitores, onde se conluiava perigosos agentes culturais, empreiteiros e o F.C. Porto.

O Rui é fino como um alho. Esta estratégia resultou em plano para um político como ele, para quem o Porto não era o ponto de chegada, mas o trampolim para altos voos em Lisboa. Ao declarar guerra a Pinto da Costa conquistou a simpatia dos alegados seis milhões de antiportistas.

Durante uma dúzia de anos, Rio cometeu a proeza de ser o único autarca da Europa a recusar a varanda dos Paços do Concelho ao clube que leva mais alto o nome da cidade - os campeões europeus de 2004, vencedores da Taça UEFA de 2003 e da Liga Europa de 2011, e campeões nacionais em 2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2011 e 2012.

No ano passado, Rui surpreendeu ao dar a medalha de mérito municipal, grau cobre, ao Manuel do Laço, sócio símbolo do seu Boavista. Este ano vai dar a medalha de mérito municipal, grau prata, à cantora do hino do Porto. Tem lógica, apesar de ter pena que ele se tenha esquecido do Lourenço trompetista.

Já agora, que estamos a falar de distinções, desconfio que o próximo presidente da (e não de? ) Câmara vai entregar ao F.C. Porto as chaves da cidade, depositando-as nas mãos do seu líder histórico, Pinto da Costa. Pois, como canta Maria Amélia Canossa, "quando alguém se atrever a sufocar o grito audaz da tua ardente voz, ó! Porto então verás vibrar a multidão, num grito só de todos nós".

Jorge Fiel, no JN