O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Que se lixem as populações

A realidade, a dura realidade, não para de vergastar o primeiro--ministro. Enquanto o pau vai e vem, diz o povo, folgam as costas. Sucede que as costas de Passos Coelho não têm descanso. Os números, os malditos números, pesam como chumbo no lombo do primeiro-ministro.

Ele anda a fazer dieta para não "ficar barrigudo" (sic). Faz sentido: os números, os malditos números que traduzem, com mais ou menos fidelidade, o estado do país, empanturram qualquer mortal. Na verdade, para os digerir, são precisas doses cavalares de sais de fruto. Mas também faz sentido dar um pulinho, com regularidade, ao ginásio, para exercitar e fortalecer os músculos.

A tarefa de Passos Coelho é ciclópica, pelo que, para além de um primeiro-ministro jeitoso e preocupado com a linha, precisamos de um primeiro-ministro com os bíceps e os tríceps bem definidos (se o esforço não servir para outra coisa, ele fará sempre um figurão nas reuniões com os seus homólogos da União Europeia).

Ontem, por exemplo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgou um relatório com números (esses malditos!) tão rudes que é preciso um tremendo poder de encaixe para um comum mortal não tombar, quando os lê.

Eis o resumo: a economia portuguesa irá encolher 3,2% este ano e 0,9% no próximo (estas previsões são as mais pessimistas das até agora apresentadas por instituições internacionais para Portugal); o Governo vai falhar as metas do défice; a dívida pública continuará a crescer, atingindo no próximo ano 120,3% do Produto Interno Bruto (PIB - o medidor da riqueza produzida pelo país); e o desemprego, a chaga das chagas, chegará aos 16,2% em 2013.

Uma brutalidade? Sim, uma brutalidade. Ao contrário do que o Governo espera, deseja e anseia, o país continuará virado do avesso, com os principais indicadores no negativo.

Creio que é à luz desta negritude que deve ser lida a despassarada declaração de Pedro Passos Coelho que há de ficar para os anais: "Que se lixem as eleições", disse ele. Porque, na verdade, o sorrisinho que acompanhou o dislate do primeiro-ministro é a triste prova de que Passos não percebeu o alcance do que disse.

Quando se apresentou a eleições, o líder do PSD estabeleceu um contrato com os portugueses. O nosso voto (a favor ou contra) é o modo como reagimos a essa proposta de contrato. É certo que Passos Coelho tem rasgado, uma a uma, as alíneas do dito cujo (mais impostos, corte do subsídio de Natal, liberalização dos despedimentos, e por aí fora...). Quer dizer: quem se tem lixado são as populações. E, a crer no caminho do Govermo, quem se vai lixar, nas próximas eleições, será Passos Coelho. 0s atos eleitorais servem para avaliar a coerência entre o que se prometeu e o que cumpriu. É lixado, não é?

Paulo Ferreira, no JN

Acordo centralista

O acordo estanbelecido entre o governo PSD e a câmara socialista de Lisboa, não é mais do que uma nova "machadada" nas regiões mais pobres do País, nomeadamente o "nosso" Norte!

Vale a pena então perguntar:

- Afinal, nesta matéria (e outras) qual é a diferença de comportamento entre o anterior governo dito socialista e o atual governo dito social democrata?

- Afinal, o que fazem os deputados eleitos pelas outras regiões, nomeadamente pelo Norte, na Assembleia da República, para além de andarem a esbanjar dinheiro e de serem bons obedientes partidários?


Vale do Sousa, 3 de Agosto

Jorge Fiel E que tal matarmos os velhos?

Mal nascia, a criança era logo submetida a um rigoroso exame. Se lhe detetassem sinais de doença física ou mental (ou não fosse julgada suficientemente robusta), era pura e simplesmente eliminada. Na velha Esparta não se brincava em serviço. Os pais espancavam regularmente os filhos, com o objetivo de os tornar mais fortes. Se eles não aguentavam e morriam, o mal era deles. Desde o nascimento até à morte, os espartanos eram pertença do Estado. Rigor, frugalidade e disciplina eram a marca de água desta cidade-Estado que governou a Grécia após ter vencido Atenas nas guerras de Peloponeso. De tal forma que espartano passou a ser sinónimo de austero.

Na Grécia antiga, os espartanos não eram os únicos a menosprezar a vida humana. Na "República", Platão defende a eliminação física dos velhos, fracos e inválidos, argumentando que esse sacrifício seria proveitoso para o fortalecimento da economia e do bem-estar coletivo.

Os tempos espartanos em que vivemos exigem aos governantes que temperem com enormes doses de bom senso e respeito pela dignidade humana o urgente esforço de racionalização dos gastos públicos e de combate ao desperdício.

Se, por absurdo, os portugueses com mais de 65 anos fossem privados do acesso aos cuidados de saúde públicos, isso iria imediatamente aliviar o défice do SNS. Abreviar a vida dos idosos teria ainda efeitos benéficos para a sustentabilidade da Segurança Social e inverteria a preocupante tendência para o envelhecimento da nossa população.

Mas apesar dos tempos de austeridade em que vivemos, ninguém no seu perfeito juízo teria a lata de sugerir impedir o acesso dos mais velhos a cuidados de saúde públicos como medida tendente a diminuir o défice. E ainda bem que assim é.

Do estrito ponto de vista da racionalidade económica, as contas públicas beneficiariam se pegássemos nos 430 habitantes do Corvo e os realojássemos num empreendimento que o senhorio do dr. Relvas (o benfiquista e promotor imobiliário Vítor Santos, também conhecido por Bibi, que se celebrizou ao gabar-se que não pagava IRS) eventualmente tenha vago em Almada.

Mas apesar dos tempos espartanos em que vivemos, ninguém no seu perfeito juízo teria a lata de propor despovoar o Corvo, abandonando a ilha a ocasionais observadores de pássaros. E ainda bem que assim é.

Pena é que sob o louvável pretexto da racionalização dos serviços públicos, governantes com um fraco conhecimento da realidade do país estejam a fechar o interior norte e centro do país, transformando--o numa imensa reserva natural desabitada, que se for bem promovida internacionalmente será visitada por muitos turistas estrangeiros - já que os de Lisboa, esses continuarão a preferir passar os tempos livres nos montes alentejanos ou nas praias ou campos de golfe algarvios.

Jorge Fiel, no JN