O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


sábado, 14 de janeiro de 2012

Entrevista a D. Manuel Clemente, Bispo do Porto

Fórum das Regiões: O exemplo de um cidadão e o pensamento crítico da Igreja, que os autarcas do Norte não conseguem interpretar...

Entrevista de D. Manuel Clemente, ao JN do Bispo do Porto, publicada no dia de Natal.

D. Manuel Clemente: “A macrocefalia de Lx é um problema estrutural do nosso país e tem determinado muito a nossa história. Onde estão mais serviços, onde se acumulam atribuições, onde a população acorre, porque em princípio há mais trabalho e, como se dizia antes, mais emprego, tudo isto cria uma necessidade estrutural mais forte. O Porto encontrou sempre em si próprio capacidade de se transformar em alternativa. O empreendedorismo que se nota no Norte, tem a ver com isso, com o não ser corte, não ser capital…”.
O que pensam os autarcas do Norte:
António Magalhães, Guimarães: Concorda totalmente com o que diz o Bispo do Porto e regista que “…a centralização acentuou-se nas últimas décadas…criou-se a ideia de que o sucesso em qualquer carreira só pode ocorrer em Lx, seja na política, na economia ou na cultura…entende ainda que o poder local é o único reduto da defesa dos direitos das populações do interior, do Norte, Centro e restantes regiões…
Mesquita Machado, Braga: Para este autarca,”… o país é Lx e o resto é paisagem…a realidade da macrocefalia de Lx é um fenómeno para o qual tem vindo a alertar, mas nota com alguma tristeza que esta realidade cada vez mais se acentua…está contra a reforma prevista porque entende que acabar com o governo nas freguesias mais pequenas só irá beneficiara macrocefalia de Lisboa…
Pedro Pinto, Paços de Ferreira: Entende que é preciso discutir sobre regionalização “…as visões centralistas impedem a adoção de verdadeiras estratégias de desenvolvimento integrado e de proximidade…senão veja-se a concentração empresarial, o volume de negócios e o volume de exportações que a região N apresenta, que lhe permite apresentar uma balança comercial positiva que em muito contribui para o crescimento económico…e para a sustentabilidade da economia nacional…
Jorge Nunes, Bragança: afirma que D. Manuel Clemente é um profundo conhecedor da realidade do país, cuja voz é ouvida…a situação de vazio demográfico e de empobrecimento do interior do país é bem evidente…já que em cerca de um terço do território, se concentra 3 quartos da população 4 quintos da economia…1 cidadão de Lx tem um rendimento 5 x superior ao de 1 cidadão no concelho mais pobre do interior…a situação é grave e em tempos de crise e de escassez recursos a tendência é de agravamento do centralismo…não se está a aproveitar 1 oportunidade única para dotar o país de poder regional legitimo, conferindo voz às regiões…
José Maria Costa, Viana do Castelo: Aqueles que vão governar esquecem-se de onde vêm…o Bispo do Porto faz um radiografia correta daquilo que é o país …por isso saúda a Igreja portuguesa que, finalmente, tenha dado voz a quem não a tem… tem pena que tenha que ser o Bispo do Porto a defender desta forma tão efusiva o N e os seus valores, quando há outros mais bem posicionados do ponto de vista político que o podiam ter feito na defesa daquilo que são os desvios…
Jornal de Notícias

ENTREVISTA A PINTO DA COSTA

Fórum das Regiões: Goste-se ou não do FCPorto e do seu líder, carismático, a verdade é que em matéria de defesa dos interesses do seu clube e, no caso em apreço, da sua região, ele tem razão...


Numa longa entrevista publicada no JN do passado Domingo, vários foram os assuntos tratados, entre eles a questão fulcral, para nós, da REGIONALIZAÇÃO:

 
JN - É um indefectível adepto da Regionalização…só que ela permanece na gaveta!

PC  - A Regionalização, além de inscrita na Constituição, tem sido periodicamente defendida por muita gente dos mais diversos quadrantes – mas só para Português ver e enganar o Povo. De facto, ela nunca foi nem será feita porque ninguém a quer; porque Portugal é um País cada vez mais centralista. Há quantos anos se fala de Regionalização? O poder, os governos, nunca a quiseram fazer – nem querem. O País está próspero? As pessoas estão bem? Têm bom nível de vida? Está tudo bem? Então, fizeram bem em não instituir a regionalização. Se está tudo mal, como infelizmente está, as pessoas que impediram a regionalização deviam ser responsabilizadas.

JN - …Mas não devia existir um lóbi mais forte, no sentido de pressionara institucionalização da regionalização?

PC – Quando os governantes não a querem – e nunca a quiseram – não há lóbi possível. Porque depois há gente que só pode ir até determinado ponto, porque sabemos como são os centros de decisão. Estão a enganar o Povo! Não a quiseram durante todos estes anos e levaram o País à situação caótica em que está, ao ponto de sermos governados por uma troika. Os que a boicotaram deviam ser responsabilizados pelo estado actual do País.

O JN convidou PC a comentar alguns dos títulos fortes das primeiras páginas que nos últimos tempos mexeram com o País político (e não só). O presidente do F.C. Porto, famoso pela defesa intransigente da Região Norte, não vacilou um só instante na abordagem a cada uma delas.

1)      O custo por quilómetro de portagens na auto-estrada da exportação, Aveiro – Vilar Formoso, custará o triplo da auto-estrada Lisboa – Cascais, o que acha?

PC – Fiquei admirado, porque julguei que era seis ou sete vezes mais. Quando verifiquei que era só o triplo pensei que as coisas, afinal, não estavam tão mal como pensava.

2)      Verifica-se pelas indeminizações compensatórias que o Estado dá às empresas públicas que a RTP recebe o triplo do que recebem STCP e a Metro do Porto.

PC – Não me admira. Pensei que fosse muito mais.

3)      Um grupo de pescadores de Vila do Conde andou à deriva quase 72 horas por falta de segurança das embarcações – ausência de rádiobalizas. Quando se fala tão pouco destas questões e mais de rating, PIB, défice, com que impressão fica?

PC – Essa ausência de meios não são notícia. Não preocupam ninguém. Os pescadores foram uns heróis e demonstraram, num momento de aflição, como são válidos. Com a prova de fé que deram publicamente merecem a felicidade de sobreviver.

 JN DE DOMINGO (1/1/12)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Refeições de milhares de alunos em risco por falta de pagamento

Fórum das regiões: Se os autarcas gastarem menos dinheiro em "benesses" próprias, ou em mastros, ou em estátuas, já ficam com dinheiro para pagar as refeições escolares...

As refeições de milhares de alunos estão em risco de ser suspensas porque as autarquias estão sem dinheiro para pagar aos fornecedores, que, nalguns casos, não recebem há um ano, alertou a Associação Nacional de Municípios.

De acordo com o vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), António José Ganhão, "há autarquias que não pagam às empresas fornecedoras há mais de um ano e há outras que ainda conseguiram pagar até Fevereiro do ano passado".

António José Ganhão acusa o Ministério da Educação e Ciência (MEC) pela situação "irresponsável" em que estão os municípios, que poderão de um dia para o outro ver o serviço de refeições "suspenso".

"O Ministério da Educação deve cerca de 60 milhões de euros às autarquias. No que toca à componente de apoio escolar, o MEC está com um atraso de um ano", recordou o vice-presidente da ANMP, classificando de "insustentável" a actual situação.

O responsável pela área da educação na ANMP lembra que "as empresas que fornecem refeições não são bancos" e alerta: "um dia destes suspendem o serviço".

António José Ganhão ressalva que existem câmaras que "estão em melhor situação do que outras, mas são uma minoria".

"Era importante que o valor em causa fosse transferido para que isso não chegasse a acontecer, mas as decisões são lentas. Algumas direcções regionais de educação pagaram mais do que as outras e isso significa que algumas autarquias conseguiram pagar até Fevereiro de 2010".


Fonte: Jornal de Notícias

A Loja dos Tachos

Cheguei esta semana à conclusão de que a Maçonaria, afinal, é uma instituição muito mais democrática e abrangente para fazer o Bem do que um qualquer Governo. Há maçons do PS, do PSD, do CDS e nem se percebe que, sendo "igualitária, "não tenha gente assumida do PCP e do BE.

Independentemente da cor política, os maçons entreajudam-se, é uma coisa entre irmãos, pronto. No Governo, já não é assim. Aqui, o Bem (entendido, claro, como os lugares de nomeação política e que fazem bem financeiramente às pessoas) só é distribuído entre agradecimentos por serviços prestados ou lealdades partidárias e na exacta medida dos resultados eleitorais conseguidos pelos dois partidos do Governo. É por isso que o CDS só tem Celeste Cardona no Conselho de Supervisão da EDP enquanto o PSD tem 4 "simpatizantes" e mais o antigo patrão de Passos Coelho na Fomentivest, liderada por Ângelo Correia. Ou terão sido os zelosos accionistas privados a pensar também nesta proporção? Nada disto teria importância se não tivesse sido a mesma coisa na CGD, nas Direcções Regionais da Segurança Social, nas Administrações de alguns hospitais, na Águas de Portugal e no facto de a EDP ter, na prática, o monopólio da energia e de a cobrar aos preços mais elevados de toda a Europa. Somos nós que pagamos, na factura da luz, os ordenados destes senhores, em média 55 mil a cada um, por mês. Pagamos isso e as reformas que alguns acumulam. Catroga é um deles, mas o caso de Paulo Teixeira Pinto parece-me mais bizarro. Foi reformado aos 46 anos por decisão de uma Junta Médica que o considerou incapaz para continuar a trabalhar. Passou a receber de reforma entre 35 mil a 40 mil euros por mês. Até agora, era o Fundo de Pensões da Banca que a pagava, mas, com a sua transferência para o Estado, vai sair do bolso de todos nós esta e todas as outras reformas altíssimas, o que já é responsável por parte da derrapagem do défice este ano. Estas verbas são obscenas para quem ganha 600 euros e leva cortes nos subsídios. Mas o Governo perdeu completamente a vergonha (e os maçons preocupados em ser secretos!). O descaramento com que tudo isto se faz só mostra que os portugueses calam e consentem. E quando é assim, não são corajosos, são parvos!

Por:Manuela Moura Guedes, Jornalista, no CM

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ASAE sela parquímetros de Vieira do Minho

Fórum das Regiões: o FdR propôe que se meta uma "cunha" a esta autoridade para selar os parquímetros de Paredes, em nome dos cidadãos e comerciantes da cidade...

A ASAE selou esta quinta-feira os sete parquímetros de Vieira do Minho, envolvendo-os com sacos pretos e apondo-lhes o aviso "produto apreendido", uma medida que a Câmara hoje classificou de "estranha" e fruto de "excesso de zelo".

"Numa altura em que muitos emigrantes regressam à terra para passarem o Natal, chegarem cá e verem este aparato todo, convenhamos que não cai muito bem. Se a ASAE tivesse falado previamente connosco, concluiria facilmente que os parquímetros ficarão regularizados no próximo dia 28", disse à Lusa o vereador responsável pela Polícia Municipal.

Segundo Pedro Álvares, o problema daqueles parquímetros tinha a ver com o fraccionamento do tempo, que era feito de 20 em 20 minutos quando, por força da nova legislação, tem de ser de 15 em 15.

"Já tínhamos feito essa actualização e já está marcado para dia 28 o controlo metrológico, o último passo que falta para estar tudo em ordem. É estranho que por tão poucos dias o centro da nossa vila fique com todo este aparato, em plena época de festa", acrescentou.

O vereador lembrou que durante todo este ano não foi feita qualquer fiscalização dos parquímetros nem aplicada qualquer coima.

A operação da ASAE foi quinta-feira denunciada na página do Facebook do PSD de Vieira do Minho.

"Hoje, as brigadas da ASAE selaram todos os parquímetros de Vieira do Minho com sacos plásticos pretos e afixaram os selos de produto apreendido. A autoridade de Segurança Alimentar e Económica revelou que a ação de fiscalização foi decidida na sequência de diversas irregularidades por parte da entidade gestora, neste caso o Município de Vieira do Minho", lê-se na página.

Jornal de Notícias

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro

Fórum das Regiões: Um excelente relato da vida real em forma de carta ao Sr. Primeiro Ministro, que ele talvez a não vá ler, mas que o devia fazer...

Exmo Senhor Primeiro Ministro,

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.

Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.

Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.

Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.

Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...

Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.

Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.


Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...

Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.

Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.

Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro e, como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus.

Myriam Zaluar, 19/12/2011

Miserável !

Primeiro foi o "caso" da maçonaria e dos políticos a ela ligados (com directos nas televisões). Depois foi o "caso" Jerónimo Martins, que até vai ser levado ao Parlamento. É assim a política portuguesa: move-se consoante a agenda mediática. Para os seus protagonistas, tudo aquilo que provoca "buzz" nas redes sociais ou na opinião pública serve para propaganda.

Primeiro foi o "caso" da maçonaria e dos políticos a ela ligados (com directos nas televisões). Depois foi o "caso" Jerónimo Martins, que até vai ser levado ao Parlamento. É assim a política portuguesa: move-se consoante a agenda mediática. Para os seus protagonistas, tudo aquilo que provoca "buzz" nas redes sociais ou na opinião pública serve para propaganda.

 
Sejamos honestos: algum daqueles assuntos merece que os políticos percam tempo com eles? É que enquanto o Parlamento se entretém com minudências, ficam por trabalhar as áreas que verdadeiramente tolhem o desenvolvimento do país.

 
Pegando na saída da Jerónimo Martins, o que devia preocupar os deputados não é o facto em si; é o que lhe está subjacente: a falta de um "acordo de regime" para se ter um quadro fiscal estável que atraia investimento estrangeiro. E, já agora, que evite a saída de empresas do País. Ainda ontem, no "DE", o antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de José Sócrates (pasme-se!) dizia: "Mesmo aquilo que está previsto no código fiscal do investimento é anulado por indefinições ao nível da administração fiscal". E concluiu: "Não será de estranhar que os contribuintes se refugiem em instâncias estáveis".

 
Quem diz isto não é um deputado. É a pessoa que "mandou" nos impostos, no anterior Governo. É o reconhecimento, puro e duro, de que somos incompetentes. É o reconhecimento de que a classe política conhece os problemas da nossa economia e, em vez de os resolver, assobia para o lado. Miserável.

PS: O Ministério Público abriu um inquérito às declarações de Otelo sobre um golpe militar. Que vá até ao fim!

Camilo Lourenço, no Jornal de negócios

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Chefe de gabinete de Isaltino organizou jantar maçónico com Montenegro, ex-espiões e quadros da Ongoing

Fórum das Regiões: É o assunto da "moda" e um mundo secreto, mas que são eles que mandam e estão nos centros de decisão, julgamos que não restam dúvidas...

Quase 200 deputados são membros da maçonaria, entre os quais os líderes das bancadas parlamentares do PS e do PSD, que pertencem a obediências diferentes.

As profundas ramificações da maçonaria na política portuguesa e as suas ligações ao mundo dos negócios e aos serviços secretos estão hoje em grande destaque na imprensa generalista.
Escreve o “Público” que Luís Montenegro, líder da bancada parlamentar do PSD que recusou ontem esclarecer se é ou não maçon, foi um dos convidados para um jantar reservado a membros da loja Mozart, em que participariam altos quadros da Ongoing, entre os quais o antigo director do SIED, Jorge Silva Carvalho.
A iniciativa do jantar-debate “reservado apenas a membros da nossa casa” e que contaria com a intervenção de Joaquim Aguiar, do grupo Mello, e a moderação de António Saraiva, presidente da CIP, teria a cabido a Nuno Manalvo, antigo chefe de gabinete de Isaltino Morais na Câmara de Oeiras.
O jornal teve acesso ao email-convite, em que se informa que o objectivo é dinamizar o grupo de reflexão “Acreditar em Portugal” com vista a “uma maior interacção com o mundo profano”.
O jantar, agendado para 4 de Julho para o restaurante Tasca da Esquina “do nosso confrade Vítor Sobral”, acabou por não se realizar, pelo menos na data prevista, mas o “Público” revela a extensa lista de convidados e constata a “comitiva de peso” da Ongoing: sete comensais, entre os quais o presidente e vice-presidente, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora (na foto, nos extremos direito e esquerdo, respectivamente), Silva Carvalho, antigo director das secretas agora a trabalhar para o grupo, e António Costa, director do “Económico”, propriedade do grupo de comunicação que tem uma participação qualificada na Impresa – e um litígio aberto com o principal accionista, Francisco Balsemão.
Já o “Diário de Notícias” faz um levantamento dos deputados que são membros da Maçonaria e chega à conclusão que são 182, quase 80% do plenário. Entre os maçons, estarão os líderes das bancadas parlamentares do PS e do PSD, Carlos Zorrinho e Luís Montenegro, que pertencerão, no entanto, a obediências diferentes: GOL (Grande Oriente Lusitano) e GLLP (Grande Loja Legal de Portugal), respectivamente.
O jornal escreve que muitos deputados concordam que seria vantajoso declararem publicamente a sua pertença à Maçonaria ou outras filiações, secretas ou não, sendo um deles Rui Paulo Figueiredo, deputado do PS e um dos raros maçons assumidos de São Bento, que pertence a GLLP onde militirá o "irmão" Montenegro.
As ligações à Maçonaria voltaram a saltar para a actualidade mediática depois de Teresa Leal Coelho, deputada social-democrata que tentou redigir um relatório comum sobre as secretas, no rescaldo da intercepção da lista de chamadas feitas por um antigo jornalista do "Público", ter alegadamente admitido, numa primeira versão do documento, "influências maçónicas" nos serviços de informação do Estado.

Eva  Gaspar - egaspar@negocios.pt

Na sombra da Loja

Há uns anos, os candidatos a maçons eram obrigados a responder por escrito a meia dúzia de perguntas.


Entre os quesitos, três têm particular importância: "Quem são os seus amigos?"; "Quem são os seus inimigos?"; "Tem problemas com a Justiça?". As respostas tinham todo o interesse. Não por mera curiosidade sobre a vida social do aprendiz, mas como primeira avaliação do carácter: uma pessoa de bem não se senta à mesa com qualquer um, escolhe as companhias com critério e só muito dificilmente será acusada daqueles crimes que envergonham. Muita gente deve ter mentido quando preencheu o papelinho. Hoje, há maçons envergonhados entre canalhas, trambiqueiros, lobistas e corruptos. Ministros e deputados, juízes e procuradores, polícias e altos funcionários dos serviços de informações convivem – no segredo de algumas lojas! – com o crime a seu lado.

As leis fundamentais da redenção humana não aprovam tão insensata e perigosa convivência. O avental não tapa tudo nem empresta carácter: um biltre maçon não deixa de ser um biltre.

Por:Manuel Catarino, Subdirector do CM