O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O relógio de cuco

O analista Fernando Sobral, faz neste seu artigo de opinião, uma avaliação muito sóbria do que resultou das presidencias. Fala, entre outras coisas de "explosiva frustração" e na eventual "constipação desta democracia". O futuro o dirá.
No seu grande solilóquio em "O Terceiro Homem", Orson Welles dizia que a Renascença, as guerras e os envenenamentos tinham permitido o surgimento de Michelangelo e de Leonardo Da Vinci.
Na Suíça, pelo contrário, 400 anos de paz criaram o relógio de cuco. Em Portugal chegámos ao fim de um período de paz podre. A eleição de Cavaco Silva inicia um novo ciclo político, típico de um país que não nada em prosperidade. A elite vai entreter-se a discutir se Sócrates sobrevive à crise financeira e se teremos eleições antecipadas e um novo Governo, fruto da união de esforços entre Passos Coelho e Paulo Portas.
Mas estas presidenciais destaparam a caixa de Pandora. As votações de Fernando Nobre e de José Manuel Coelho mostram que há um eleitorado que já não se revê na árvore das Patacas de interesses que alimentam este regime. A crise económica só alargará essa franja excluída, principalmente a nível dos mais jovens. Se Nobre, fascinado pela sua "vitória", poderá ser tentado por um salto mortal: entrar a sério na política. Onde a ética servirá como guarda-chuva de todas as ambições. José Manuel Coelho é outro caso: foi um voto de protesto e não apenas na Madeira. Ficou aberta uma janela que poderá constipar esta democracia. Se os partidos políticos não descerem à Terra, e não escutarem uma sociedade esgotada e desencantada, arriscam-se a criar um deserto à sua volta, onde poderão florir projectos de ruptura radical com o sistema. O tempo das horas incertas chegou. No Portugal da paz podre não nascem relógios de cuco nem Da Vincis. Cresce uma explosiva frustração.


Fernando Sobral
fsobral@negocios.pt
25 Janeiro2011