O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Traz os Montes/PS-CDU-Bloco


1.Consultas de médico e dentista, roupa, alimentos e orientações nutricionais para famílias carenciadas em troca das boas notas de alunos. Está a acontecer em Trás-os-Montes por força de uma iniciativa que não dependeu do Estado mas sim do apoio generoso das empresas locais e da iniciativa fundadora do padre Amadeu Castro. Esta aventura social batizada de "Bagos d'Ouro" foi trazida na segunda-feira por este jornal.
A "Bagos d'Ouro" apoia 76 famílias e apoiará muitas mais no futuro porque as histórias felizes tendem a atrair mais gente, sobretudo quando elas puxam pelo mérito. Tem, no entanto, uma face crua da nossa realidade: aos 9 ou 10 anos estes pequenos alunos já sentem o peso da responsabilidade - melhor vida para a família depende dos resultados escolares. E a verdade é que crianças com esta responsabilidade em cima dos ombros, tão cedo, perdem uma boa parte da inocência e felicidade em função de uma 'obrigação': estudar muito. E o que é "estudar muito" ou ter "boas notas" aos 9 anos? É uma forma de combater a pobreza e as dificuldades de um ambiente familiar deprimido. Aprender cedo o preço do mundo é a dupla face do "Bagos d'Ouro". Mas a vida é assim: não se pode ajudar todos. E há que lutar desde o berço. Além disso, quando um destes miúdos falha, há alguém do Bagos para ajudar.
Mais Bagos, mesmo que não sejam de ouro, precisam-se.
2. Alguém prometeu a Trás-os-Montes a finalização do túnel do Marão - mais uma promessa (em ano eleitoral)? É verdade, é apenas uma estrada, mas pode ser quase tudo. Bastará recordarmo-nos do que era o Alentejo antes e depois da autoestrada (A6) para se perceber da importância da transferência de riqueza que acontece em localidades que passam a ter bons acessos. E Trás-os-Montes é o Alentejo do Norte e registará um enorme crescimento da riqueza porque tem natureza ainda bem conservada, um grande potencial agrícola e gente boa com capacidade de resiliência testada desde há séculos.
Há um ponto essencial para o seu futuro: a natureza é o principal trunfo daquelas terras. E é exatamente por isso que ficarão na história os crimes perpetrados pelos atuais autarcas transmontanos quando venderam por 30 moedas o rio Sabor e o Tua para duas mastodônticas e evitáveis barragens da EDP. Os dois colossais muros de betão cravados na paisagem, por mais que sejam de Souto de Moura (no Tua) ou sem assinatura (no Sabor) são um monumento à curta visão de homens que ignoram o turismo e a natureza selvagem como o principal factor de diferenciação da região. Não há turismo sem comboio, natureza intensa, paisagem e memória. Ninguém vem de avião para tomar banho em barragens... Veja-se o Alqueva e a cada vez mais degradada qualidade da água ou de como, afinal, os projetos de turismo de milhões e milhões vão arrancar... arrancar... e afinal, nada.
Ainda estão a tempo de parar o Tua, apesar da maldição que já caiu sobre o Sabor. Para isso era preciso haver senso. E vergonha.
3. Na moção de censura de ontem, no Parlamento, ficou claro uma coisa: a Esquerda parece preparada para se unir. Ou é tudo a fingir? Depois do dia de ontem o PS, CDU e Bloco têm a obrigação moral de se entenderem e apresentarem-se ao presidente da República dizendo que são uma alternativa ao Governo - e exigirem eleições. Tudo o resto é retórica. Na sequência disso, o presidente da República tem a obrigação de convidar o primeiro-ministro a sair e convocar eleições, ou evitá-las gerando dentro do PSD um processo de mutação genético. Há um PSD com ideias que vai de Cadilhe a Pacheco Pereira ou a Rangel que podem evitar o caos. E coragem?
4. A queda deste Governo não decorre do que se passa no Parlamento, mas fora dele. Como ontem este jornal noticiava, o ministro das Finanças fez as contas para 2013 pressupondo um crescimento do PIB de 400 milhões de euros. Como é óbvio (e já o era há seis meses) o PIB vai cair - mil milhões é o que se estima para já. Quem o diz é a parlamentar Unidade Técnica de Apoio Orçamental.
Perante os exemplos diários, claros, como este, não dá para continuar a acreditar nos pesadelos cor-de-rosa anunciados regularmente por Gaspar. São sempre piores do que ele diz.

Daniel Deusdado, no JN

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