Das duas vezes, nos santos populares, andámos
entre o Fluvial e o Passeio Alegre. A oferta de diversões, comes e bebes é
satisfatória e circula-se mais à vontade do que na Ribeira ou Afurada. No S. João
não vimos o fogo de artifício ao vivo, mas, para compensar, no S. Pedro
assistimos de palanque - primeira plateia, coxia central - ao foguetório, que
não foi pior, antes pelo contrário.
Nas festas, a Marginal tem matrecos,
carrosséis, pistas de carrinhos de choque, roulottes de bifanas e pão com
chouriço, barracas de doce da Teixeira, e o Cabeças, tenda com mesas corridas
onde vendiam deliciosas sandes de um porco assado no espeto, à vista de todos,
empurradas por cerveja fresca em canecas de grés estupidamente geladas.
Faltavam os pimentos e sardinhas, assadas na
hora, mas não as incontornáveis farturas. Na noite de S. João, fiquei freguês
das do Pavilhão Samuely. Voltei no S. Pedro e demorei-me a analisar o processo
produtivo, enquanto comíamos as farturas empoleirados na colina de relva do
jardim do Cálem, ali ao lado do monumento que celebra a conquista de Ceuta e
nos recorda porque somos tripeiros.
Eram só três a trabalhar. O pai
(presumivelmente Samuel) e duas filhas, ambas sub-18 (cruz, credo, canhoto!
exploração de trabalho infantil!). O Samuel manejava com destreza o tubo,
espalhando circularmente a massa na frigideira XXL com o óleo a ferver, virava
a rosca gigante e depois, com ela já tostada, depositava-a no tabuleiro
lateral, e voltava ao início, enchia o tubo...
Ao lado uma da outra, sem nunca se atropelarem
nem deixarem cair um sorriso verdadeiro (se não era contratem-nas já para os
Morangos com Açúcar!), as duas miúdas atendiam a freguesia, faziam marketing
(um irresistível: "Meia dúzia são quatro euros, mas olhe que por cinco
leva nove " ), cortavam as farturas, polvilhavam-nas com açúcar e canela,
davam o troco e passavam ao cliente seguinte.
Enquanto esperava o fogo, maravilhei-me a
apreciar a eficiência, precisão e profissionalismo do trabalho na roulotte
Samuely, onde apesar da forte procura nunca se chegou a formar bicha.
Depois, para matar o tempo, entretive-me a
imaginar o pesadelo que seria se nacionalizassem os carrinhos de choque e
guarnecessem com funcionários públicos as roulottes de bifanas e farturas.
Meeeeedo! Seria um Inferno - pior que o do Dante e do Dan Brown juntos.
Belmiro disse uma vez que o Marques Mendes nem
para porteiro da Sonae servia, porque com a sua verborreia confundiria os
visitantes. Na noite de S. Pedro, convenci-me que o Cavaco, o Passos e Portas
nem para gerir a pista dos carrinhos de choque serviam. E que o Seguro, o
Carlos Silva e o Arménio, todos juntos, levariam à falência, enquanto o Diabo
esfregava um olho, a roulotte Samuely. Meeeedo!
Arre porra!, que tristeza que é haver neste
país tanta gente boa e amante do trabalho e nós termos de aguentar com um
cambada de incompetentes e ladrões de impostos instalados no poder em Lisboa.
Jorge Fiel, no JN
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