Neste dia em que escrevo não é fácil escrever
que Portugal tem governo. As aparências iludem...Desde logo a língua
portuguesa, mesmo maltratada, continua apta a fazer das suas. A frase acima
pode ser entendida no sentido de que o nosso país não tem governo possível,
depois de tantas asneiras, mas pode e neste caso deve, ser percebida no sentido
de saber se Portugal tem (ou não...) um Governo em termos de órgão do poder
executivo.
Só que esclarecida esta primeira dificuldade,
a dúvida mantém-se instalada. Existe um Governo em funções quando alguns dos
seus ministros se declararam demissionários? Existe um Governo quando o
presidente da República passa vários dias a ouvir os partidos (incluindo os que
integram este Governo, ou mais ou menos...) para saber se há de formar outro
Governo, parecido com este ou diferente dele, ou pelo contrário deve convocar
eleições antecipadas, já para não alinhar nas especulações antigas que falavam
na vontade de Cavaco arranjar um Governo de Bloco Central à volta de Rui Rio e
António Costa?
Existe um Governo quando a Comunicação Social
publica propostas de constituição de um novo Governo pela velha maioria, que
"despede" ministros supostamente em funções, troca outros de pastas e
recompõe ministérios sem mexer nos ministros?
Existe um Governo que tem (ou tinha) um
ministro dos Negócios Estrangeiros que vai para fora cá dentro e agora parece
que vai voltar para dentro do Governo, mas deixando de ir para fora, porque
mudou de ideias e também vai mudar de pasta?
Existe um Governo que tem um ministro Maduro
(mas verde nestas coisas das tricas políticas) a quem confiaram a coordenação
política do elenco e que nem aqueceu o lugar antes de assistir à maior falta de
coordenação política que representaram os episódios da demissão de Gaspar, a
tomada de posse de Maria Luís Albuquerque e a putativa, mas irrevogável
demissão de Paulo Portas? Já para não falar na ameaças de demissão de Mota
Soares e Assunção Cristas?
Dizem que sim. Parece que existe. As
más-línguas das boas previsões dizem até que este Governo está para durar,
porque Cavaco tem horror ao vazio e vai reconduzi-lo, talvez recauchutá-lo, mas
nunca por nunca demiti-lo.
Darece que vai ser possível assistirmos à
tomada de posse, mais uma, com a solenidade habitual, onde todas estas caras se
encontrarão e sorrirão larocas para as fotografias, sem qualquer vergonha pelo
que andam a fazer.
Deste Governo desaparecerão os mal-entendidos,
as más influências, os inimigos da troika e todos os arautos da desgraça.Se se
confirmar que Paulo Portas fica mesmo responsável pela parte em que Vítor
Gaspar se entendia com os alemães, vai ser bom ver esse novo Governo a dizer a
Bruxelas o que Portas tem andado a defender em Lisboa.
Será que é desta que vamos todos a ficar a ver
quem manda? Que nos voltaremos a pôr de pé? Ou se o Governo que existe, na hora
em que é preciso bater o pé à troika e aos alemães, afinal, mesmo existindo,
não existe para essas coisas?
Mesmo quando muda de ministros como eu mudo de
camisa?
MS no JN
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