O
ex-presidente da República Mário Soares afirmou hoje que o resultado do acordo
alcançado entre os partidos do Governo vai ser "uma desgraça total" e
mostrou-se convencido de que o executivo não deverá durar muito tempo.
"Estou
convencido de que o Governo não se vai aguentar muito tempo. Pelo contrário,
porque agora é que já ninguém se entende", disse Soares, que falava numa
conferência em Lisboa sobre as relações ibero-americanas.
Referindo-se
ao actual executivo como "este infeliz Governo", o ex-chefe de Estado
disse ter acreditado que o seu mandato estava a terminar quando o ministro
Paulo Portas se demitiu na semana passada, mas tudo mudou dias depois.
"O
Portas, que é um salta-pocinhas, disse que saía e que se demitia e que era
irrevogável a sua decisão. Eu ouvi aquele discurso e até acreditei naquilo.
Simplesmente, três ou quatro dias depois mudou de opinião e já está no Governo
como vice-presidente", disse Mário Soares.
O líder
do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, anunciou, no sábado, um
entendimento político com o CDS-PP liderado por Paulo Portas, proposto para
vice-primeiro-ministro com a responsabilidade da coordenação económica, reforma
do Estado e ligação à 'troika', que, caso o Presidente da República, Cavaco
Silva, aceite esta solução, se manterá no executivo.
Sobre o
futuro, estimou que o executivo irá "amanhar-se muito mal" e
mostrou-se convencido de que "vai ser uma desgraça total".
Na sua
intervenção, o ex-presidente disse que as relações dos países ibéricos com os
países latino-americanos "é fundamental e deve ser desenvolvida",
pelo que considerou essencial "conhecer a realidade ibero-americana e a
crise" que afecta a Península Ibérica, e considerou "mais ou menos
seguro" que a crise europeia se vai repercutir na América Latina.
Soares
insistiu que a chanceler alemã, Angela Merkel "é a grande
responsável" da crise, porque "foi ela que fez as políticas de
austeridade que foram realmente um fracasso".
No
entanto, disse não estar "completamente pessimista em relação ao futuro da
Europa, por dois motivos: porque a Alemanha será obrigada a mudar para manter
os seus níveis de exportação, que dependem do nível de liquidez dos restantes
países europeus; e por causa dos EUA.
"Os
únicos aliados fiéis que a América do Norte tem são os europeus. Eles não podem
dar-se ao luxo de perder esses aliados com uma crise que faz cair no abismo
toda a Europa. por isso vão ter de intervir também, de maneira directa ou
secundária", disse.
"Eu
creio que este próximo ano vai ser um ano de mudança" em toda a Europa, a
começar pela Alemanha, acrescentou.
Mário Soares, no JN
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