Investigadores da Universidade de Kiel, na
Alemanha, criaram, há uns dois anos, uma fita adesiva tão forte, tão forte que
pode ser reutilizada milhares de vezes sem perder qualidade. Achim Oesert, líder
do projeto, inspirou-se nas osgas e nos insetos que conseguem segurar-se às
paredes e outras superfícies sem dificuldade e por tempo indeterminado.
O que permite a estes animais tamanha
aderência? A circunstância de terem inúmeros pelos espalhados pelas patas e
pernas, descobriram os investigadores. Para provar que a coisa era séria,
durante a apresentação da ideia, Achim conseguiu ficar suspenso do teto, usando
somente o poder aderente da fita. Achim transformou em realidade o que muitos
de nós mantínhamos na memória como um feito impossível: descobriu uma cola que,
de facto, cola cientistas ao teto, promessa feita mas nunca comprovada pelo
velhinho anúncio da nossa Araldite.
Mais do que spin doctors muitos, assessores
aos molhos e agências de comunicação aos montes, Pedro Passos Coelho devia
chamar ao seu gabinete, o mais depressa possível, o professor Achim Oesert.
Tarefa: colocar a equipa de investigação alemã à procura de uma combinação
química da qual resultasse uma cola que garantisse a junção, para todo o
sempre, dos cacos feitos pelo Governo, dentro e fora dele. Sobretudo fora dele.
O episódio da chamada "TSU das
viúvas" é o mais vivo exemplo da forma indigna usada pelo Governo para
tratar de assuntos que mexem com o bolso e com a vida das pessoas. Portas
apareceu, impante, numa conferência de imprensa, a pintar o céu de azul. Ao seu
lado, a ministra das Finanças fez cara de caso, ao ver o vice-primeiro-ministro
vender ilusões. Seguiu-se uma (in)conveniente fuga de informação que deixou
durante uma semana (repito: uma semana) os pensionistas - e, por arrasto, o
país - em pânico.
Portas, presidente do partido que defende os
fracos e oprimidos, terá ficado furioso com o caso, porque, ao contrário do que
foi veiculado, o corte nas pensões não começa nos 600 euros: começará mais
acima. Vai daí, Portas decidiu marcar uma comunicação ao país, que depois
desmarcou, um dia antes de o Governo fechar o Orçamento do Estado (OE) para
2014. Supostamente, Portas queria fazer engolir as palavras aos autores da fuga.
Andou uma semana a preparar a vingança. Pouco importa que o país estivesse,
outra vez, virado do avesso.
E assim governam Passos e Portas. Depois do
edificante episódio da demissão "irrevogável", eles abraçaram-se, em
nome dos altos interesses do país, e juraram não fazer mais tropelias um ao
outro. Está visto: cruzaram os dedos quando fizeram a jura... O país está como
está e ficará como ficará quando, amanhã, conhecermos o OE. Já nem com Araldite
isto lá vai. Deixemos o professor Achim em paz.
Paulo Ferreira, no JN
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