O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O Governo e a cola Araldite

Investigadores da Universidade de Kiel, na Alemanha, criaram, há uns dois anos, uma fita adesiva tão forte, tão forte que pode ser reutilizada milhares de vezes sem perder qualidade. Achim Oesert, líder do projeto, inspirou-se nas osgas e nos insetos que conseguem segurar-se às paredes e outras superfícies sem dificuldade e por tempo indeterminado.
O que permite a estes animais tamanha aderência? A circunstância de terem inúmeros pelos espalhados pelas patas e pernas, descobriram os investigadores. Para provar que a coisa era séria, durante a apresentação da ideia, Achim conseguiu ficar suspenso do teto, usando somente o poder aderente da fita. Achim transformou em realidade o que muitos de nós mantínhamos na memória como um feito impossível: descobriu uma cola que, de facto, cola cientistas ao teto, promessa feita mas nunca comprovada pelo velhinho anúncio da nossa Araldite.
Mais do que spin doctors muitos, assessores aos molhos e agências de comunicação aos montes, Pedro Passos Coelho devia chamar ao seu gabinete, o mais depressa possível, o professor Achim Oesert. Tarefa: colocar a equipa de investigação alemã à procura de uma combinação química da qual resultasse uma cola que garantisse a junção, para todo o sempre, dos cacos feitos pelo Governo, dentro e fora dele. Sobretudo fora dele.
O episódio da chamada "TSU das viúvas" é o mais vivo exemplo da forma indigna usada pelo Governo para tratar de assuntos que mexem com o bolso e com a vida das pessoas. Portas apareceu, impante, numa conferência de imprensa, a pintar o céu de azul. Ao seu lado, a ministra das Finanças fez cara de caso, ao ver o vice-primeiro-ministro vender ilusões. Seguiu-se uma (in)conveniente fuga de informação que deixou durante uma semana (repito: uma semana) os pensionistas - e, por arrasto, o país - em pânico.
Portas, presidente do partido que defende os fracos e oprimidos, terá ficado furioso com o caso, porque, ao contrário do que foi veiculado, o corte nas pensões não começa nos 600 euros: começará mais acima. Vai daí, Portas decidiu marcar uma comunicação ao país, que depois desmarcou, um dia antes de o Governo fechar o Orçamento do Estado (OE) para 2014. Supostamente, Portas queria fazer engolir as palavras aos autores da fuga. Andou uma semana a preparar a vingança. Pouco importa que o país estivesse, outra vez, virado do avesso.
E assim governam Passos e Portas. Depois do edificante episódio da demissão "irrevogável", eles abraçaram-se, em nome dos altos interesses do país, e juraram não fazer mais tropelias um ao outro. Está visto: cruzaram os dedos quando fizeram a jura... O país está como está e ficará como ficará quando, amanhã, conhecermos o OE. Já nem com Araldite isto lá vai. Deixemos o professor Achim em paz.

Paulo Ferreira, no JN                                                                                   

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