O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Quem enganou Pires de Lima?

A entrada de Pires de Lima para o Ministério da Economia foi recebida pelos empresários de todo o país como uma boa notícia. Não apenas porque se livravam de Álvaro Santos Pereira, a quem nunca deram o benefício da dúvida, mas sobretudo porque viam no ex-presidente da UNICER alguém que conhece bem o tecido empresarial e que, por isso mesmo, há muito vinha defendendo, sem papas na língua, o que as pequenas, as médias e até as grandes empresas reclamavam. Nesse sentido, e também porque faz parte do grupo mais próximo do vice-primeiro-ministro, Pires de Lima deveria ser o braço armado, digamos assim, das empresas no Governo.

O que pode dizer-se passado tão pouco tempo sobre a tomada de posse de Pires de Lima? Talvez tenhamos trocado um excelente empresário por um sofrível ministro. A coisa seria aceitável, não se desse o caso de o país precisar, hoje mais do que nunca, de um excelente ministro da Economia. O homem que batia ferozmente na política de Vítor Gaspar amansou rapidamente. É certo que, enquanto membro do Executivo, tem um dever de lealdade que lhe trava a verve. Mas, se atentarmos no Orçamento do Estado (OE) para 2014 que nos foi apresentado, o mínimo que pode dizer-se é que Pires de Lima averbou uma pesada derrota.
Era ele que dizia em voz alta o que Paulo Portas pensava em tom baixo e estava proibido de afirmar em público. Era ele que firmava e reafirmava, em frente às câmaras de televisão, os valores do CDS-PP, aqueles que constituem (ou supostamente devem constituir) a famosa "linha vermelha" que o líder do partido não admite pisar. Numa palavra, era ele, pela liberdade oratória que possuía, que apontava a Passos Coelho o caminho que o CDS-PP gostava de ver trilhado, sempre em defesa dos mais pobres, dos que mais sofrem, dos que são assaltados pelo Estado com uma despudorada intensidade e regularidade.

Era ele que pugnava pela descida do IRS. Era ele que se batia pela redução do IVA da restauração. Era ele que defendia o aumento, o mais depressa possível, do salário mínimo nacional. Era ele que queria ver no terreno a reforma do IRC. E por aí fora, num tom sempre de sentido contrário ao que estava a ser usado pelo Governo. Excluindo o IRC, mais nada do que Pires de Lima almejava ganhou corpo. Se fosse ainda empresário, Pires de Lima podia dizer deste OE o que Maomé não disse do toucinho. Assim, o máximo que consegue dizer é que este OE já devia ter sido feito em 2012. Ai sim?

Confrontado, há dias, com a evidência dos factos, o ministro respondeu, algo irritado, que nada disto belisca a confiança que o primeiro-ministro nele mantém. Pois não. Para o primeiro-ministro, a entrada de Pires de Lima no Governo deu, de resto, muito jeito: retirou da praça pública um dos mais procurados comentadores das medidas draconianas do Governo. Calou-o.

"Sei que a minha entrada no Governo correspondeu a um excesso de expetativas. E também tinha a noção que muito provavelmente o meu estado de graça ia terminar quando se apresentasse o Orçamento do Estado para 2014", disse Pires de Lima em entrevista ao "Expresso". É uma análise lúcida. "Grandes amores e enganos comportam grandes riscos", disse Dalai Lama. Quem terá enganado Pires de Lima?


Paulo Ferreira, no JN

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