O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Uma agressão gratuita

1.Muito se tem dito e escrito, nestes últimos tempos, sobre a posição insustentável do Governo em relação à reabilitação urbana na cidade do Porto. Tão insustentável e incompreensível, quanto é certo que o setor da construção civil, altamente criador de emprego e claro dinamizador da atividade económica, está a atravessar no nosso país uma das mais sérias crises de sempre. Estando o Governo a anunciar sucessivos programas de apoio ao investimento privado e à criação de postos de trabalho, como pode menosprezar um instrumento tão eficaz, que tem à mão de semear, com provas dadas e história feita? Como pode não enxergar aquilo que para quase todos é evidente?
Segundo um estudo referido pela CIP, creio que de 2010, o volume de investimento necessário para reabilitar todos os edifícios de Portugal que precisam de intervenção, sejam residenciais ou não, públicos e privados, ronda os 150 mil milhões de euros, o que criaria 600 mil postos de trabalho para 20 anos. Estamos a falar de números enormes que a estarem desatualizados só o serão por defeito. Enquanto a média de 14 países europeus analisados no estudo nos diz que 23% da produção total da construção respeita à reabilitação urbana, atingindo 32% na Alemanha, em Portugal quedamo-nos pelos 6,2%. Os centros tradicionais do Porto e de Lisboa apresentam hoje largos quarteirões com habitação degradada que os desfeiam e os tornam inabitáveis, feridas cada vez mais visíveis resultantes da política de congelamento de rendas que vingou, nas duas metrópoles, no pós-guerra.
É inquestionável que há, neste domínio, muito para fazer. Tem-se aqui uma oportunidade de peso, cujo efeito multiplicador é inquestionável logo no curto e médio prazo. Ora sabendo-se tudo isto, não faz sentido o comportamento do Governo em relação à reabilitação urbana na cidade do Porto.
Diz-nos o exemplo vindo de outros países europeus que o sucesso destas intervenções em tecido urbano consolidado será tanto maior quanto mais forte for a cooperação entre a Administração Central, a Administração Local e o setor privado. E, no Porto, tudo começou bem.
O Governo e o Município constituíram em 2004 uma sociedade de reabilitação urbana ( SRU ) em que o primeiro subscreveu 60% do capital, o segundo 40% e os privados participavam com investimento direto face a projetos concretos. Os primeiros destes projetos foram lançados e tudo parecia ir dar certo.
Eis senão quando tudo se alterou. O Governo, maioritário na sociedade, recusou pagar a quota-parte da sua responsabilidade na gestão, referente aos anos de 2010 e 2011, no montante de 2,4 milhões de euros. Não estamos a falar de 2,4 mil milhões de euros, o que por certo traria a troika ao controlo indireto da sociedade.
Falamos de 1,2 milhões por ano quando, segundo dados da SRU, entre 2005 e 2013 o investimento privado realizado em reabilitação ultrapassou os 500 milhões de euros. Mesmo em tempo de crise, aquele montante de 1,2 milhões é irrelevante no orçamento de um ministério. Acresce a tudo isto a recusa do Governo na recomposição do Conselho de Administração, o congelamento das alterações estatutárias por si propostas e o voto contra todos os pontos da agenda na última assembleia-geral.
Não se entende. A menos que o conflito aberto na sociedade seja, afinal, um instrumento para atingir outros fins - os da luta pelo poder nas estruturas do PSD. É público que o presidente da Câmara do Porto não morre de amores pela atual liderança do seu partido e é notório que não se inibe de discordar abertamente da atuação do Governo. Quando se fala de alternativas dentro do PSD, o seu nome é sempre referido. Ora seria lamentável que o Governo se servisse de um grave problema da cidade para dirimir conflitos partidários apoucando o presidente da Câmara. Quero acreditar que não será isso. A sê-lo, atingiu-se o patamar mais mesquinho e degradante da luta política.
2. O Futebol Clube do Porto sagrou--se uma vez mais campeão quando já muitos pensavam ser impossível. Foi empolgante, com disputa acesa até ao último minuto. A cidade, uma vez mais, afirmou-se através do desporto, no futebol, no hóquei em patins e no andebol. Que bela oportunidade, lamentavelmente perdida, para se poder manifestar, na casa de todos os portuenses, o reconhecimento pelo sucesso alcançado.

Fernando Gomes, no JN

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