O paralelismo continua! O percurso dos dois Vítores (Gaspar e
Pereira) parece continuar alinhado, cada um no seu domínio. Após semanas
negras, o panorama desanuviou-se para ambos na semana que passou. Em rigor, no
caso de Gaspar, algumas das boas notícias (alargamento de prazos e do limite do
défice) já vinham de trás. E, em rigor, ainda, nem tudo foram boas notícias: o
desemprego atingiu níveis históricos. Coisas da economia real. Como é ministro
das Finanças, o que contou mesmo foi a emissão de dívida a 10 anos. Um sucesso.
Para o seu homónimo Pereira, a semana foi, ainda, melhor: viu o Benfica começar
por empatar, o que deu ao jogo no Dragão, contra o rival, outra importância, e,
depois, ganhou quando já nada nem ninguém o previa. Se o paralelismo se
mantiver, o desfecho da reunião de hoje do Eurogrupo poderá antecipar o do
campeonato. Se os resultados da cimeira não forem bons, a emissão de dívida da
semana passada será como a vitória sobre o Benfica: uma alegria momentânea que
de pouco serviu: testaram-se os mercados que nos acolheram a um preço
insustentável; quebrou-se a invencibilidade do adversário sem tirar daí tirar
outro proveito.
Na verdade, os paralelismos acabam aqui. Ganhar o campeonato é quase
uma questão simbólica. O que conta mesmo é a presença, que tanto Porto como
Benfica já asseguraram na chamada liga milionária, a Champions. No caso das
Finanças, ou melhor, do país, o simbólico esteve na emissão. Faltam os milhões
da liga milionária, não sendo óbvio que tenhamos treinador, equipa e táctica
para nos sairmos a contento. O treinador não dá a cara. Instalado em Bruxelas
ou Frankfurt, fala por interpostas pessoas, os seus adjuntos, Passos e Gaspar.
Os adeptos desesperam com o que ouvem e vêem. Portugal é uma equipa à deriva em
que até o massagista aparece a mandar palpites sobre os erros a evitar. O
presidente nada diz. Os treinadores, autocráticos, insistem na mesma receita,
perdendo jogo atrás de jogo, falhando meta atrás de meta. Exaurem a equipa e
desmotivam a massa associativa.
O assunto é demasiado sério para continuar com metáforas. As
ideias de base são simples e estão correctas: aquilo que gastamos a mais na
frente interna tem de ser compensado através do aumento das exportações e da
substituição de importações. Não se compra português, nem sequer cá dentro, só
por o ser. É preciso ter preço. Para isso é necessário que os custos baixem
(daí a pressão sobre os salários), a produtividade aumente (a importância da
gestão) e, eventualmente, as margens diminuam. Se não houver os incentivos
certos, aquilo que, de outro modo poderia ter efeitos virtuosos, traduzindo-se
em ganhos de competitividade e criação de emprego, pode redundar apenas num
aprofundamento da desigualdade na distribuição de rendimentos. Descem os
custos, aumentam os lucros e nada se altera. A insistência na facilitação do
crédito, sem critério, contém o risco de perpetuar o modelo que nos trouxe até
aqui. Os incentivos hão-de ser para a mudança desta lógica, premiando o autofinanciamento
do investimento e o saneamento da estrutura de capitais. Uma simples descida do
IRC sem condicionalidades não chega.
Consciente de que a margem de crescimento das nossas exportações e
a capacidade de substituição de importações são, no curto prazo, limitadas, é
natural que o Governo tente diminuir a pressão, reduzindo as necessidades de
financiamento, contendo o défice público e reformando o Estado. Era e é
inevitável. A sua concretização, em forma e ritmo, é que pode diferir. É uma
das reformas necessárias. Não suficiente. Em conjunto com algumas das outras
(mercado de trabalho, justiça, concorrência, sistema fiscal, etc.) talvez dê
para começarmos a entrar no radar dos investidores estrangeiros dignos desse
nome, que não se limitam a comprar dívida pública e criam riqueza. Esses, se
apreciam as reformas, exigem estabilidade. Detestam a incerteza. O que não se
consegue sem uma visão de longo prazo e acordos interpartidários sobre como lá
chegar. Governo, Oposição e presidente estarão mesmo a ver o jogo?
Alberto Castro, no JN
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