O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Os velhinhos servos e os outros

O sol, o vinho do Porto, as sardinhas assadas ou o fado deviam ser por si só razões bastantes para potenciar no estrangeiro a indústria do turismo portuguesa. São poucas alíneas de atratividade? Junte-se-lhes a riqueza histórica e paisagística, a monumentalidade ou a excelência de certos serviços e um custo de vida relativamente barato, quando comparado com outros destinos. Vender um potencial assim não está ao alcance de todas as nações, mas por cá existe sempre quem tente inovar pela via menos adequada: pôr o país de cócoras.
Descontados os muitos vídeos promocionais conhecidos por serem marcados por cenas de puro servilismo nacional, chegou uma nova moda: atrair os cidadãos estrangeiros em idade de reforma para gozarem o fim de linha das suas vidas em território português.
Lançado em janeiro, o programa visa o chamado dois em um.
Por um lado, o convencimento de fixação de residência em Portugal de ingleses, franceses, russos ou chineses fará mexer a economia, esteja ela ligada à compra de salsichas ou de remédios para o reumatismo; por outro lado, quem para o Algarve ou o Alto Douro venha viver precisa de dispor de uma habitação e o país está encharcado de imóveis às moscas - no essencial da responsabilidade dos bancos responsáveis pela promoção e concessão de crédito fácil a qualquer bicho- -careta ou pato-bravo da construção civil quando ainda se pensava que o Terreiro do Paço dispunha de uma fábrica de fazer notas de euro.
A tese da captação de investimento pela fixação de cidadãos estrangeiros em Portugal não contém em si nenhum pecado mortal. Num mundo cada vez mais concorrencial dá-se é o caso de, a páginas tantas, tornar--se desvantajosa a condição de ser português em Portugal.
Mais interessado nos vícios e nas guerras de alecrim e manjerona dos protagonistas do Poder, o país prestou pouca atenção, por exemplo, à grande movida de gauleses ao Salão Imobiliário português realizado no último fim de semana em Paris. O objetivo da mostra era, naturalmente, o de divulgar as vantagens da compra de uma casinha em Portugal, obtendo benefícios se cumprido o compromisso de passar a residir fiscalmente por cá e comprovar a presença no país pelo prazo mínimo de 183 dias por ano. Um belo isco!, fundamentado na legislação existente a partir de 1 de janeiro e segundo a qual os residentes em Portugal que recebam reformas de fontes estrangeiras estão isentos de impostos sobre as suas pensões privadas.
As vantagens do programa para um estrangeiro ficaram bem caracterizadas no jornal "Le Figaro", classificando a costa portuguesa como o novo eldorado e apelidando Portugal como "o novo paraíso fiscal para os reformados franceses".
Sim, a tese poderia ser só elogiosa, mas não. Quando em Portugal a esmagadora maioria dos pensionistas e reformados recebem menos de 600 euros por mês e os que auferem acima de tal patamar de quase miséria estão sob o cutelo de mais e mais impostos e contribuições extraordinárias, não é nada de louvar os traços gerais do chamariz à terceira idade de outros países para as fronteiras nacionais.
É aconselhável não ultrapassar mínimos de dignidade. Portugal precisa de investimento e de novas fontes geradoras de riqueza. Deve, no entanto, dispensar a aviltação de tornar mais pobres os seus reformados e pensionistas pretendendo colocá-los como servos de velhinhos endinheirados a quem o país concede benesses.

Fernando Santos, no JN

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