O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Tiquetaque, tiquetaque!

"Quando o ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar aparecia, o povo tremia. E com razão: para o bem e para o mal, Gaspar dizia ao que vinha e dizia-nos o que aí vinha. Portas apenas nos disse ao que vinha: não disse o que aí vinha. Ora, perder de vista o que aí vem é o mesmo que fechar os olhos quando chegamos em alta velocidade a uma curva apertada".

O leitor perdoar-me-á o facto de me citar a mim mesmo, mas escrevi exatamente isto há três dias. Confesso: acabei o texto com a sensação de ter carregado nos negros. Infelizmente, a sensação estava errada, estando certa a impressão de que os raios de luz que pareciam irradiar da conversa de Paulo Portas faziam parte daquilo que, a par da inteligência, distingue o vice-primeiro-ministro: a capacidade para esconder a verdade fazendo rimar as palavras, para que tudo vá fluindo até ao ponto em que o público fica anestesiado.

O leitor recordar-se-á também de que, no debate quinzenal da passada sexta-feira, o primeiro-ministro encheu os pulmões de ar e gritou: "Chegou a hora da verdade". É verdade: chegou a hora da verdade para milhares e milhares de pensionistas que, vivendo com pouco, vão passar a viver com ainda menos.

A "TSU dos viúvos", para usar a expressão que ontem tomou conta das redes sociais, é, convém lembrar, o terceiro corte direto que os pensionistas apanham no seu rendimento: já foram chamados a contribuir com uma taxa extraordinária e já levaram, em média, uma ceifadela de 10% no que recebiam.

Um número apenas para ilustrar a dimensão da coisa. Dizem os dados do Ministério das Finanças que só os cortes na Caixa Geral de Aposentações (CGA) previstos para o próximo ano vão afetar 302 mil pensões de velhice e 44 mil pensões de sobrevivência, o que corresponde a mais de 60% dos beneficiários da CGA.
A isto, que não é pouco, há ainda que somar a subida da idade da reforma para os 66 anos e respetivo agravamento do fator de sustentabilidade, que implicará mais penalizações para os novos reformados, incluindo os que têm pensões mais baixas. E há que acrescentar a redução de benefícios fiscais, o aumento dos impostos, etc., etc., etc....

A "TSU dos viúvos" constitui, pela dimensão e pela forma como, outra vez, foi erradamente comunicada e ainda mais erradamente explicada, mais uma passo sério para o engrossar do "exército de abandonados" gerado pelo agravamento da crise social que sova, todos os dias, os que menos podem.

O tiquetaque desta bomba-relógio é ensurdecedor. É perigoso. É temível. É evitável? É, no mínimo, contrariável. Basta dizer a verdade, explicar, contextualizar. A famosa condição de recursos (obrigação de fazer prova da totalidade dos rendimentos auferidos) é, em tese, um bom princípio. Mas não pode servir, como está a servir neste caso, para, novamente, tapar os olhos aos portugueses.


Paulo Ferreira, no JN

Sem comentários:

Enviar um comentário