Era a partida para uma festa de despedida de
solteira, num destino surpresa para a noiva. O tempo de espera pelo check-in
deu para perceber a cena, passada no aeroporto Marconi, em Bolonha. Atrás de mim
na bicha, uma meia dúzia de adolescentes italianas escoltava uma amiga com um
véu branco na cabeça, ouvidos tapados por auscultadores e olhos vendados por um
lenço. Só quando o avião da Ryanair já estava no ar é que ela soube que voava
para o Porto.
As estatísticas confirmam o que ouvimos e
vemos na Baixa, Casa da Música ou marginal. Nunca o Porto teve tantos turistas.
Os números aquecem-nos a alma. Apesar da quebra na procura doméstica, no
primeiro semestre, as dormidas na Região Norte cresceram 6,6% (acima da média
nacional que foi de 5.4%), garantindo à hotelaria uma taxa de ocupação de
40,4%, razoável para uma indústria que sofre a concorrência dos hostels e do
alojamento informal.
Os indicadores são animadores, mas não evitam
um arrepio na espinha quando reparamos que se o Porto foi eleito o melhor
destino europeu e a Ribeira está atulhada de turistas, a TAP está inocente. A
culpa é da Ryanair.
Sempre que a privatização da TAP aterra na
agenda, tremem logo as beiças dos pânditas que se apressam a vociferar ai-jesus
que a companhia aérea de bandeira é estratégica. Acalmem p. f. o histerismo,
porque apesar de andar a ser oferecida por todo o Mundo, com um dote não
negligenciável, a TAP é uma noiva sem pretendentes idóneos.
Não é só o Norte que tem razões de queixa. A
TAP deixou de trabalhar o Algarve, que, abandonado aos charters e às low-cost,
sofre cada vez mais com a sazonalidade e perdeu 460 mil dormidas em seis anos.
Serviço público? Estratégia? Só para Lisboa, por isso, para a desencalhar e
evitar que fique para tia, o melhor é o Costa municipalizá-la. Nós, os da
paisagem, precisamos tanto dela como de uma dor de dentes.
As estatísticas do turismo são animadoras, mas
não evitam sentirmos uma corrente de ar nas costas quando reparamos que o
Governo em vez de ajudar só atrapalha.
Dos estrangeiros que nos visitam, só 60% vêm
de avião. E dos que chegam por terra, 30% são espanhóis. Ora a introdução nas
ex-scut do mais estúpido sistema de cobrança de portagens jamais inventado
criou uma barreira ao fluxo de turistas espanhóis, exterminando as escapadas de
curta duração com graves prejuízos para comércio, restauração e hotelaria de
Viseu, Guarda, Viana e Algarve. Os números não mentem. No primeiro semestre,
Espanha foi a única exceção ao crescimento de visitantes vindos dos maiores
mercados emissores.
Portugal e Espanha são os dois únicos países
da OCDE onde o turismo pesa dois dígitos no emprego e PIB. O turismo é
demasiado importante para continuarmos a sofrer o centralismo da TAP e o
amadorismo de governantes. As estatísticas podem ser boas, mas não chegam. A
não ser que alguém me explique por que é que Barcelona recebe oito milhões de
estrangeiros/ano e Portugal todo não chega aos sete milhões?
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