O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

A ganância não dorme

As notícias interessam? Um ditador usa armas químicas e o Mundo não se sobressalta. Em resposta os Estados Unidos dispõem-se a lançar bombas em cima dos soldados governamentais sírios como castigo - ainda que a consequência seja facilitar a vida aos rebeldes apoiados pela al-Qaeda. E é entretanto a cada vez menos democrática Rússia que parece trazer uma solução de paz - evitar a viagem dos aviões americanos sem tripulantes (drones) com bombas para o Exército de Assad. A democracia é representada por quem? Que negócios de armamento representam estes bailados diplomáticos?

Com o cenário da guerra o petróleo sobe. O Médio Oriente continua um barril de pólvora mas as nações desenvolvidas não podem suportar energia ainda mais cara. Só que o problema do Médio Oriente já não é dos americanos (eles têm cada vez mais petróleo e gás). Sobra para tomar conta do Médio Oriente a China, que não quer ser polícia do Mundo. Vender armas sim, vender lixo (coisas) sim, mas gastar dinheiro com a ordem mundial, isso não. O mesmo se diga da sistemática cobardia alemã nos conflitos internacionais - sempre poupados, os alemães... Quem diz que a Alemanha é o país mais provinciano entre as grandes potências, tem razão.

Neste mundo paroquial há eleições germânicas a 22 de setembro. Por isso não espanta que a senhora Merkel, dona de casa austera, se prepare para as ganhar de novo, apoiada por um bacoco líder bávaro, de um pequeno partido (tipo CDS), chamado Horst Seehofer. O senhor afirmou num debate televisivo de campanha eleitoral que pediria ao Governo para impor portagens aos veículos estrangeiros que usarem as autoestradas alemãs. No dia em que isso acontecer a xenofobia ao veículo de matrícula estrangeira espalhar-se-á pela Europa toda (calma: a xenofobia é só contra a passagem dos carros). E que tal a xenofobia ao carro alemão?

Sem Alemanha fiável, os países do Sul vivem no limbo à espera da "justiça" dos mercados. E, no entanto, sem se saber muito bem como, estes países do Sul da Europa recuperam. Talvez o turismo anglo-saxónico, escandinavo ou de fora da Europa se tenha virado para o Mediterrâneo onde também "estamos". Egito, Tunísia e Brasil estão num caco e nós ganhamos com isso. O ligeiro alívio na energia dos últimos meses também ajudou às contas públicas. Ou as "férias" dos mercados. Ou os juros "zero" do Banco Central Europeu para ver se a senhora Merkel é eleita... Algo resultou. Será que menos aperto funciona?

Recuperação consistente em Portugal? Não fora o susto do Governo em julho e estaríamos melhor. As pessoas e os consumidores começam a perder o medo. Portas é mais fofo que Gaspar, vamos lá gastar. Também por cá há muitos turistas e as cidades estão cheias, à pinha, neste princípio de setembro. O trânsito no Porto fazia lembrar esta semana a cidade entupida antes de Fernando Gomes - ninguém andava.

Nesta euforia curtinha caem como gelo os cortes aos pensionistas. Os "velhos" (cada vez mais novos) são gaseados com diminuições eternas de rendimentos, um confisco económico e moral face a tudo em que acreditaram ao longo da vida. Não há dinheiro, dizem, embora haja sempre dinheiro para tudo - desde a importante "retoma" da economia à baixa de impostos ou, tão-só, para os gabinetes e outras utilidades duvidosas. A moral do Estado morreu. E com ela a ilegitimidade da fuga ao Fisco ou à Segurança Social. Cortar pensões em 2011 ou 2012 era uma emergência. Isto é a perpetuação do roubo. E como receber uma carta das Finanças todos os meses a exigir 10% do rendimento - ou então a prisão. É um assalto para sempre.

E por isso a Síria ou a indiferença aos gaseados, a Alemanha ou a indiferença aos pobres do Sul, o Governo ou a rendição à inevitabilidade nos cortes aos reformados são a mesma coisa: danos colaterais de grandes estratégias assentes na Economia - a maximização do resultado independentemente da consequência. Por outras palavras, a doutrina da ganância. Resulta sempre porque os outros são "sírios". É-nos indiferente. E nesta letargia vai-se perdendo tudo.


Daniel Deusdado, no JN

Sem comentários:

Enviar um comentário