1. A pior coisa que nos pode acontecer neste
momento é ficarmos tolhidos pelo medo. O facto é claro desde 15 de setembro: os
portugueses não querem Passos Coelho nem as pessoas que pensaram ser possível
fazer a TSU. Uma ideia tão absurda como esta, face à realidade do país,
eliminou a credibilidade do primeiro-ministro para liderar Portugal. Até Gaspar
o compreendeu quando se quis demitir em outubro. Passos deve sair o mais
urgentemente possível de cena. Só mesmo ele não percebe que se tornou o
principal entrave para sairmos desta crise política. Mas como não parece
perceber, alguém tem de lhe fazer um desenho. Ou seja, a rua. Passos está à
espera de ser vítima da revolta popular. Vai lançar a polícia de choque contra
manifestantes revoltados pela falta de legitimidade de quem quer manter-se no
poder a todo o custo. Senhor primeiro-ministro: quer que isto vire
definitivamente a 'Grécia', humilhando-nos internacionalmente ainda mais?
2. Sejamos lúcidos: façamos eleições já. A
economia privada e exportadora vão tentando remar contra a maré mas Passos e
Gaspar conseguiram sempre tornar mais difícil o que já era hercúleo. Quanto
mais cedo se clarificar isto, melhor. Um novo ciclo não tem de ser pior do que
a situação atual. Estamos sob a 'proteção' do empréstimo da troika até setembro
de 2014 - antes de chegarmos aos mercados. Não precisamos de crédito já. Não
estamos a sofrer com as "subidas" dos juros de ontem - é falso, é
virtual! Façamos isto já porque há liquidez nos cofres do Estado para aguentar
as contas até ao fim do ano e entretanto teremos um rumo diferente que os
mercados acabarão por valorizar - se tivermos uma estratégia. Os mercados sobem
e descem. Se fosse igual todos os dias ninguém investia. Não há que ter medo
'deles'. As taxas de juro sobre a dívida portuguesa ou as bolsas estão a subir
hoje mas descerão 'amanhã' se tivermos um Governo com outra visão. Portugal não
perdeu ontem 2,6 mil milhões de euros na Bolsa! Desvalorizou apenas. Há de
valorizar a seguir. É virtual! As televisões, rádio e jornais geram sistemático
pânico por informação sem enquadramento.
3. O ponto central é que não há investimento
nem confiança com este primeiro-ministro e este projeto de Governo - e isso é
que é decisivo. "Esta estabilidade" não nos dará taxas de juro
melhores para a dívida portuguesa se não houver crescimento e emprego. E é
mentira que percamos tudo o que sofremos até agora só por irmos para eleições.
Se continuarmos assim é que a troika fica cá para sempre.
4. O presidente da República tem a obrigação
de ouvir os portugueses, tem de acabar com aceleração para o caos social. A
única coisa nova que Passos trouxe para a política portuguesa foi a do
"Manual de como sequestrar Paulo Portas", que exerceu com sadismo
durante dois anos. Agora queixa-se de deslealdade? É a hipocrisia total.
Obviamente Portas colheu aquilo que andou a semear toda a vida política.
5. Esperemos que o Governo não ouse por um
momento invocar qualquer ligeira recuperação da economia, do emprego ou das
exportações, como se fosse mérito seu. Vai haver números macroeconómicos
melhores dentro de semanas/meses? Há quem resista a tudo - até a este caos.
Alguém se lembra de uma medida estrutural que tenha estimulado o crescimento ou
a confiança?
6. Passos Coelho tem ainda um dever com o PSD:
a sua saída rápida permite um congresso para uma nova liderança. Isso permitirá
ao partido apresentar-se com um ideário realmente social-democrata às urnas e
evitar o desastre total em todos os próximos atos eleitorais.
7. Paulo Portas tinha, pelo menos, o benefício
da dúvida de não ter apoiado Gaspar & Companhia e obter alguma legitimidade
para ir a eleições como líder, ou, pelo menos, entregar o CDS dignamente a
sufrágio com outra liderança. Se preferir o rótulo de um partido que
quis/tentou/derrubou o Governo e, ao mesmo tempo, o manteve artificialmente
contra a vontade dos portugueses, decidirá pela mais cobarde das opções.
8. Este não é um tempo para meias-medidas e
meias-palavras. Este Governo acabou. Se não for a bem, infelizmente vai ser a
mal.
Daniel Deusdado, no JN
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