O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

A farsa continua...

Passos Coelho explicava anteontem em Berlim, com inconcebível candura, que não se demite do cargo porque os portugueses "querem ver o filme até ao fim". Viajou até Berlim para assistir a uma conferência sobre o desemprego jovem na Europa, e ali descreveu à imprensa internacional o desconchavo das intrigas e cobardias que minaram o seu Governo e destruíram a maioria parlamentar que o suportava, declarando com displicência que "meras preferências quanto a nomes para pastas do Governo" não eram motivo suficiente para que se demitisse! Na véspera, Cavaco Silva prosseguia a cerimónia de posse dos novos governantes já depois de conhecer o pedido de demissão do ministro promovido a número dois desse mesmo Governo, mas cuja exoneração Coelho preferiu não lhe solicitar. A farsa continua. Vítor Gaspar demitiu-se da pasta das finanças publicando uma carta que arrasa o Governo e assume os fracassos da sua política... o que todavia não impediu Cavaco e Passos de lhe testemunharem os mais ternos afetos e penhorada gratidão, na hora da despedida!

Este espetáculo inimaginável que expõe cruamente a generalizada degradação das instituições soberanas da República vai continuar por mais algum tempo.

Dois anos antes, com o intuito de vencer a "obstinação" do Governo minoritário do Partido Socialista que teimava em recusar a apresentação do pedido de resgate financeiro, foi dissolvida a Assembleia da República e foram convocadas eleições legislativas antecipadas, numa atmosfera de inusitada unanimidade. Um Governo já demissionário, com meros poderes de gestão, viu-se então obrigado a negociar um programa de emergência com o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.
O Governo seguinte faria do "memorando de entendimento" o seu único programa de governo e decidiu à cabeça duplicar as medidas de austeridade nele previstas.
Dois anos depois, com terríveis custos económicos, sociais, políticos e financeiros, demonstrava-se cabalmente o fracasso do tão almejado programa de resgate, uma derrota aliás confessada, por escrito, pelo seu principal executor - o ex-ministro das Finanças. Contudo, paradoxalmente, é pelo mesmo caminho que querem prosseguir e é em seu nome que rejeitam a antecipação de eleições legislativas - único meio viável para a recuperação da autoridade e da legitimidade democráticas que os atuais governantes desbarataram com extraordinária leviandade em tão curto tempo.

Já não há Governo, nem coligação, nem maioria parlamentar. Por seu turno, a Presidência deu o último sinal de vida em março de 2011, quando o seu titular acusou o anterior primeiro-ministro de deslealdade institucional, precipitando uma crise política.

A farsa continua porque todos tentam evitar o reconhecimento das responsabilidades próprias e nenhum se atreve a desligar o moribundo da máquina, sem obter prévia autorização da troika - a única soberania que de facto reconhecem. Promovem o medo e invocam a "estabilidade", alegam que dentro de 15 dias começa a oitava missão de avaliação, que a reforma do Estado e o Orçamento para 2014 ficariam comprometidos, que um segundo resgate se tornaria inevitável...

Evitar um segundo resgate é com efeito um imperativo incontornável pelo qual respondem estes governantes. Mas se um Governo minoritário com meros poderes de gestão foi outrora considerado competente para negociar o atual "memorando de entendimento", apesar de demissionário, porque não poderia este Executivo cumprir agora tudo o que lhe resta cumprir para satisfazer a oitava avaliação? Será legítimo acorrentar o país por mais um ano ao Orçamento do Estado de uma maioria "contrafeita" e de um Governo de farsa? Por tudo isso, parece da maior prudência dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas, imediatamente!


Pedro Bacelar Vasconcelos, no JN

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