É quase comovente a forma como alguns dos
principais dirigentes políticos europeus passaram a falar, num instantinho,
sobre o drama do desemprego jovem que cresce a bom crescer na União Europeia
(UE). Ontem, em Paris, um subalterno da mandona Merkel e o frouxo François
Hollande lideraram a comitiva dos que entendem ser necessário "dar aos
jovens confiança e esperança no futuro" (esta frase cabe em qualquer rasco
boletim de campanha autárquica). E essa coisa da "esperança"
resolve-se com a criação de "um plano urgente que resolva o desemprego dos
jovens na UE". Por isso, a 3 de julho, os ministros da Economia e do
Emprego dos estados membros darão as mãos, em Berlim, num encontro presidido
por Angela Merkel (claro!), para rezar pelos jovens desempregados.
Olhando para os números desta tragédia pode,
desde já, dizer-se que a reza será longa. Em março deste ano, havia mais de 5,6
milhões de jovens com menos de 25 anos de idade desempregados na UE, dos quais 3,6
milhões são referentes a países da Zona Euro, o que corresponde a uma taxa de
desemprego jovem de 23,5% na UE e de 24% na Zona Euro.Em Portugal, a taxa
atingiu os 38,3%, no mesmo mês, o que confirma a atávica tendência para
estarmos sempre à frente dos nossos companheiros europeus quando o tema, como
agora se diz, é o descalabro.
É absolutamente confrangedor olhar para este
cenário. As causas e as consequências deste flagelo, uma verdadeira
bomba-relógio encravada nas goelas das chamadas sociedades modernas, são há
muito conhecidas. Há quem tenha maior controlo sobre o problema (caso da
Alemanha, cujo sistema de ensino dual permite uma aproximação eficaz entre a
oferta e a procura no mercado de trabalho); e há quem não tenha qualquer
controlo sobre o problema (caso de Portugal, cujo sistema de ensino permite um
terrível afastamento entre a oferta e a procura no mercado de trabalho, ou de
Espanha, onde os níveis tamanhos de desemprego estrutural tendem a inflacionar
o drama do desemprego jovem).
É absolutamente confrangedor tomar devida nota
da importância tardia que os líderes da UE dão ao fenómeno do desemprego jovem,
que, basicamente, ameaça destruir a expetativa de vida de toda uma geração (no
caso português, a mais qualificada de sempre). Primeiro, por incúria e
incapacidade política, mandaram os jovens para o olho do furacão, para o meio
de uma tempestade perfeita. Depois, arrependidos e tementes aos deuses, tiram
60 mil milhões de euros dos cofres da UE para (tentar) resgatar a multidão em
desespero. Quando Hollande e companhia gritarem aos náufragos pedindo-lhes
"esperança no futuro", usando para isso uma caterva de medidas, pode
acontecer que recebam silêncio e só silêncio na volta. Esse"é o perigo.
Paulo Ferreira, no JN
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