Vítor Gaspar lançou os foguetes e apanhou a canas ainda a operação
não tinha terminado: a colocação de dívida pública portuguesa a 10 anos foi
"um grande sucesso", rejubilou o ministro das Finanças. Isto apesar
dos 5,6% de taxa de juro que os donos do dinheiro nos exigem. Ou seja, apenas
um ponto percentual a menos do que há dois anos, quando se achou que o preço a
pagar era insuportável e o país foi resgatado.
As contas do "sucesso" são simples de fazer: três mil
milhões de euros a uma taxa de juro de 5,6% representam qualquer coisa como o
equivalente a 168 milhões de euros de juros por ano, ou seja, 1680 milhões de
euros para pagar no final desse período de dez anos, só em juros.
Acrescente-se, em seguida, a seguinte hipótese nada académica: um
banco qualquer, português, alemão ou finlandês, vai sacar ao Banco Central
Europeu, aproveitando a atual taxa de juro de referência de 0,5%, uma quantia
de três mil milhões de euros. Se o empréstimo do BCE tiver um período de
vigência de 10 anos, o banco português, alemão ou finlandês, paga 15 milhões de
euros de juros por ano, ou 150 milhões no total dos 10 anos.
Continuemos a elaborar e imaginemos que o banco português, alemão
ou finlandês, ou até mesmo um sindicato bancário, como está na moda, pega nesse
dinheirão e, de forma direta ou indireta (emprestando a outros), adquire dívida
portuguesa a 10 anos.
É só continuar a fazer as contas: cumprido o circuito, o sindicato
bancário, de especuladores, ou de investidores, como queiram chamar-lhe,
receberá 1680 milhões de euros em juros do Estado português, para pagar apenas
150 milhões em juros ao BCE. Dá um lucro de 1530 milhões de euros, sem esforço,
apenas pela manipulação de dinheiro. O nosso dinheiro. Porque são estas as
regras do BCE: empresta à Banca, para que esta empreste aos Estados.
Vítor Gaspar tem razão. A operação de colocação de dívida
portuguesa a 10 anos foi "um enorme sucesso"... para quem a
subscreveu, ou seja, para os sindicatos bancários e os especuladores, que
conseguem dinheiro muito barato, no BCE ou noutras paragens ainda menos
recomendáveis, e emprestam muito caro.
Acontece que, para os portugueses, o "sucesso" de Vítor
Gaspar é sinónimo de mais um garrote. Porque já se sabe quem vai pagar o
empréstimo e os juros usurários que nos cobram: os velhos, através das reduções
nas pensões; os funcionários públicos, com a chantagem da mobilidade; os
desempregados, com subsídios sucessivamente cortados; e todos os cidadãos que
ainda conseguem manter o emprego ou gerar riqueza, sobrecarregados com
impostos. Segundo o PSD, chama-se a isto dar "sentido útil aos
sacrifícios".
Rafael Barbosa, no Jn
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