Paulo Morais: Crise
foi provocada pela corrupção, não pelos excessos dos portugueses
O vice-presidente da Associação de Integridade e
Transparência, Paulo Morais, garantiu hoje que a crise económica em Portugal
não se deve ao facto de os portugueses terem vivido acima das suas
possibilidades, mas aos fenómenos de corrupção.
"Há
duas mentiras que têm sido repetidas na sociedade portuguesa: que os
portugueses andaram a gastar acima das suas possibilidades e que não há alternativa
à austeridade para expiarem os pecados (que não cometeram)", disse.
Segundo
Paulo Morais, que falava sobre a "Origem da Crise" numa conferência
sobre o modelo do Estado Social, promovida pela Escola Superior de Ciências
Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal, "grande parte da divida
pública e privada é fruto da corrupção e não dos alegados excessos dos
portugueses".
Paulo
Morais destacou o peso do caso BPN e das Parcerias Público-Privadas (PPP),
entre outros, na dívida pública e lembrou que 68% da dívida privada é
resultante da especulação imobiliária, salientando que só cerca de 15% da
divida privada se pode atribuir aos alegados excessos dos portugueses.
Os
resultantes 15% da divida privada, disse Paulo Morais, correspondem a todo o
dinheiro disponível na banca para apoiar a economia portuguesa, que considerou
insuficiente.
Para
o antigo vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, a verdadeira explicação para
a crise em Portugal está nos fenómenos de corrupção na administração central e
local, que têm permitido a "transferência de recursos públicos para
grandes grupos económicos".
"Seis
a sete por cento dos recursos do Orçamento de Estado vão para grandes grupos
económicos", disse Paulo Morais, referindo o grupo Espírito Santo, o grupo
Mello e o grupo Mota Engil, como alguns dos principais beneficiários.
"Em
2011, as PPP custaram 1.700 milhões de euros, ou seja, mais do dobro dos 799
milhões de euros que estavam previstos inicialmente", disse Paulo Morais,
considerando incompreensível que tivesse havido um desvio com um custo superior
ao preço que estava inicialmente previsto.
"O
que o Estado pagou a mais às PPP só é possível porque a sede da política -
Assembleia da República - está transformada num centro de negócios",
disse.
Como exemplo da gestão danosa dos dinheiros públicos, Paulo
Morais referiu uma fórmula de cálculo inserida no contrato de uma PPP, numa
auto-estrada em Viana do Castelo, em que o concessionário paga multas, ou
recebe prémios do Estado, em função da taxa de sinistralidade.
"Se a sinistralidade aumentar 10%, o concessionário tem
de pagar uma multa de 600 mil euros, mas, se houver uma redução de 10% na
sinistralidade, o Estado tem de pagar à empresa 30 milhões de euros",
disse.
"Quem
assinou o contrato, só por isso, devia estar preso", sentenciou.
Referindo-se
à nacionalização do BPN, Paulo Morais lembrou que o anterior governo socialista
nacionalizou apenas os prejuízos, que estão a ser pagos pelo povo português, e
permitiu que os acionistas da SLN - Sociedade Lusa de Negócios (agora com o
nome Galilei), detentora do banco, ficasse com os ativos e com todas as
empresas lucrativas.
Paulo
Morais garantiu, no entanto, que "se houver vontade política e se a
justiça atuar como deve, o Estado ainda pode recuperar três ou quatro mil
milhões de euros, através dos ativos do grupo Galilei e das contas bancárias
dos principais acionistas".
A
aquisição de dois submarinos à Alemanha é, segundo Paulo Morais, mais uma caso
de "corrupção comprovada", não pelos tribunais portugueses, mas pelos
tribunais da Alemanha.
"Na
Alemanha há pessoas [acusadas de corrupção] a dormirem todos os dias na
cadeia", disse.
Fonte: Agência LUSA
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