A escolha de um ministro para tomar conta da
pasta do desenvolvimento regional é, à partida, uma boa notícia, sobretudo num
país carregado de velhas e duras assimetrias e cujo futuro depende bastante da
boa aplicação dos fundos comunitários.
Na aparência, portanto, a decisão de
Passos Coelho em entregar o pelouro a alguém com efetivo poder de decisão faz
sentido. Faz duplo sentido até, na medida em que, em princípio, esta é a forma
de pôr cobro à luta que opunha há muito o ministro da Economia e o ministro das
Finanças: ambos desejam, ardentemente, controlar as chorudas verbas que nos
chegam da União Europeia.
Sendo assim na aparência, o caso é bastante
mais complicado na essência. Por vários motivos.
Primeiro: se a ideia de Passos Coelho era
acabar com a birra entre Álvaro Santos Pereira e Vítor Gaspar entregando a
pasta a um ministro, por que razão deixou sair Almeida Henriques do Governo?
Era ele que dominava o dossiê dos fundos. Era ele que fazia a ponte com os
atores políticos regionais. Era ele que fazia a ponte com o tecido empresarial.
Era ele que garantia consistência na política de desenvolvimento regional. Se
era ele o tampão entre Álvaro e Gaspar, fazia todo o sentido que subisse a
ministro. O problema da candidatura à Câmara de Viseu seria, certamente, um
pequeno e ultrapassável engulho.
Segundo: ver o desenvolvimento regional fora
da Economia é um exercício possível, mas difícil e indesejável. Quer dizer: ao
separar as pastas e perante a saída de Almeida Henriques, o primeiro-ministro
dá um claríssimo sinal de que considera Álvaro Santos Pereira incapaz para
gerir o dossiê dos fundos comunitários e do desenvolvimento regional.
Terceiro: é preciso dar tempo ao tempo para
avaliar as capacidades do novo ministro. Miguel Poiares Maduro é um ilustre
desconhecido das várias partes que compõem o complexo todo que é o
desenvolvimento regional. Isso é, obviamente, uma desvantagem. Mas pode
transformar-se numa vantagem, caso Poiares Maduro tenha humildade suficiente
para descer ao terreno e se tiver arte para pôr todos os atores a puxar para o
mesmo lado.
Quarto: a tarefa do novo ministro é exigente.
Construir um novo quadro comunitário mantendo-se imune às pressões do ministro
da Economia e, sobretudo, do ministro das Finanças é tarefa para gente com
tarimba e coluna reta. Se Poiares não for lesto no mando e rijo na negociação,
quando der por ela já Vítor Gaspar lhe terá comido as papas na cabeça. Isto é:
já Gaspar terá amarrado o novo ministro às incontornáveis exigências do
memorando com a troika e, por essa via, deitado a mão aos fundos comunitários,
transformando-os num instrumento de política orçamental.
Quinto: nessa altura, Passos
perceberá
Paulo Ferreira, no JN
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