O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


terça-feira, 2 de abril de 2013

Rui Moreira e o fim do rodízio


A recomposição do sistema político português segue em passo acelerado. É há muito evidente o divórcio entre eleitos e eleitores, como é há muito evidente que está esgotado o modelo assente em partidos tradicionais com crescente tendência para se fecharem sobre si mesmos, modo de segurar (e assegurar) a distribuição de uma camada de poder cada vez mais fina.
Creio que as gravíssimas consequências sociais e económicas resultantes deste tempo de agonia em que vivemos tenderão a pôr ainda mais depressa em xeque o atual modelo. A participação e a representação democráticas não serão mais tributárias desta espécie de rodízio parlamentar que nos é oferecido: mudam as caras, mas, para problemas imensamente diferentes e mais complicados do que aqueles que se nos colocavam há meia dúzia de anos, as respostas continuam as mesmas.
Este caldo é perigoso e estimulante. Perigoso, porque pode gerar populismos da pior espécie, protagonizados por gente de verve dura e cabeça mole. Estimulante, porque nos obriga a olhar com redobrado cuidado para o que está e a pensar com triplicado cuidado no que queremos que venha a estar.
Serão as eleições autárquicas, pelo contexto muito específico em que se realizam, uma espécie de primeira amostra deste movimento?
Tomemos o exemplo do Porto.
Rui Moreira apresentou ontem a sua candidatura à Câmara. É um desejo de longa data só agora concretizado. E porquê só agora?
Resposta (demasiado) fácil: porque o presidente da Associação Comercial do Porto (ACP) detesta Luís Filipe Menezes e fará tudo, mancomunado com Rui Rio, para estragar a festa do ex-líder do PSD. Fraco argumento. Por que razão sairia Moreira da sua zona de conforto para se dedicar a esta esgrima, sabendo que pode ser ferido de morte, caso perca por muitos?
Resposta (julgo) mais adequada: porque o presidente da ACP percebeu, justamente, que a mudança em curso lhe facilita o objetivo. O voto de protesto contra o Governo que, sobretudo nas zonas mais urbanas da cidade, afetará Menezes pode cair para o seu lado, mais do que para o lado de Manuel Pizarro, candidato do PS. O voto dos que elegeram Rio contra Fernando Gomes pode cair para o seu lado, na medida em que, em certo sentido, Rui Moreira aparece como o homem que não pertence ao "sistema" (tal como Rio há 12 anos), coisa que não acontece com Pizarro. O voto dos que procuram novos protagonistas para novos problemas pode cair para o seu lado, uma vez que Menezes e Pizarro são candidatos com a carga política e ideológica que está, todos os dias, a ser questionada.
Sim: a fulanização é decisiva nestes atos eleitorais. Sim: Menezes é um temível "chalenger". Sim: convém não esquecer a determinação de Pizarro. Mas também convém não esquecer que, mais cedo do que tarde, a recomposição em curso do sistema partidário começará a ver--se, com flagrante nitidez, nas urnas.

Paulo Ferreira, no JN

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