O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


terça-feira, 2 de abril de 2013

O meu smoking e as portagens na A28


Tenho um smoking que comprei para ir à festa do 25.o aniversário do casamento de Fernanda e Américo Amorim. Usei-o apenas mais uma vez na cerimónia final das comemorações dos 25 anos do "Expresso". E não vejo jeitos dele voltar a ter serventia, apesar do nosso JN estar prestes a fazer 125 anos. Como o dress code afrouxou, suspeito de que o smoking não voltará a sair do armário.
Foi mau negócio comprar um smoking para o usar só duas vezes. A atenuante é que os tempos eram outros, valorizava-se mais o possuir do que o usufruir. O tempo nunca mais voltará para trás, para esses dias em que quase todos éramos consumidores bulímicos.
Neste novo normal a que nos estamos a ajustar, o desperdício é o inimigo número 1 e a prioridade tem de ser aproveitar ao máximo os bens e equipamentos que adquirimos quando o dinheiro abundava.
Um dos efeitos secundários positivos da questionável aposta no betão foi o Alto Minho ficar equipado com uma boa rede de autoestradas, que serviu de base a uma estratégia de desenvolvimento desenhada a partir da sua localização a uma hora de distância das áreas metropolitanas de Porto, Vigo e Braga.
Com duas autoestradas verticais (A28 pelo litoral e A3 pelo interior) e uma horizontal (a A27), o Alto Minho duplicou as exportações e atraiu investimento estrangeiro, designadamente na energia eólica e na metalurgia e metalomecânica, onde acolheu um invejável naipe de empresas fornecedoras de componentes para a indústria automóvel (Citroën de Vigo e Autoeuropa, mas não só), naval e aeronáutica.
Este esforço tem sido torpeado pelo Governo de Lisboa que, não satisfeito em ter deixado cair a aposta estratégica de Sócrates nas energias renováveis (que justificou o mega-investimento dos alemães da Enercon, o coração do cluster eólico), está a erguer um nova fronteira que separa o Norte da Galiza, através da introdução de portagens numa A28 primitivamente apresentada aos habitantes e investidores como scut e ferramenta para o desenvolvimento regional.
Se fosse um país, a Galiza seria o 6.o mais importante destino das nossas exportações, imediatamente a seguir ao Reino Unido e à frente de Itália, Bélgica e Brasil - que apenas nos compra 1/3 dos galegos.
Introduzir à má fila, e com um sistema de cobranças absurdo, portagens nas A28 e A27 é espetar uma faca nas costas do desenvolvimento de uma região com uma riqueza de 62% da média comunitária (do outro lado do rio Minho, a percentagem sobe para 93%).
E não me venham com a treta do princípio do utilizador pagador porque os impostos de courenses e caminhenses também vão parar às empresas públicas de transportes, apesar deles não usarem o metro de Lisboa e a linha de Cascais.
Portajadas, a A28 e a A27 são quase tão úteis como o meu smoking. Custaram um balúrdio e estão às moscas, por causa das portagens, com o cortejo de efeitos secundários negativos que elas acarretam: aumento da sinistralidade rodoviária, tempo perdido e desgaste nas EN. É preciso ser muito míope para não ver isto.

Jorge Fiel, no JN

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