O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


quarta-feira, 20 de março de 2013

Álvaro, leiloeiro de Portugal


Amigo Álvaro, uma má notícia: Vancouver não tem saudades tuas. "Álvaro who?" "Minister"? Tudo calmo no Canadá sem ti. Talvez tu tenhas saudades do Canadá. Ou talvez não - está sempre a chover, frio, e, assim como assim, umas 'férias' em Portugal vieram a calhar. Depois voltas tranquilamente para a civilização onde nenhum dos teus amigos saberá que tentaste meter um país no caixote do lixo ambiental.

Só assim se compreende que consigas ultrapassar em meia dúzia de meses as traquinices irresponsáveis dos PIN (projetos de Potencial Interesse Nacional) de Sócrates, Pinho e Basílio, que arrasavam o que fosse preciso por uma boa notícia de telejornal. O teu padrão é o mesmo: o que é necessário é "investimento". Desenvolvimento à pressa, martelado, cujas consequências nem quererás compreender. Obviamente, quando o recreio acabar, voltas às aulas de Vancouver.

Portugal ficará literalmente esventrado depois desta tua aventura de assinares uma centena de contratos de exploração mineira cuja exploração, no final, deixará crateras e contaminações nos cursos de água durante séculos. Já para não falar das poeiras que voam a quilómetros de distância e criam permanentes problemas respiratórios. Basta ir às Minas de São Domingos, no Alentejo, a São Pedro da Cova, em Gondomar, ou Nelas e Canas de Senhorim (bem perto de Viseu, tua terra natal) e ver. Crateras lunares e contaminações letais.

Percebe-se que algo de muito grave tem de estar a acontecer a um país que entrega, sem qualquer burburinho público, uma centena de novas concessões mineiras de uma só vez, faz do eucalipto a sua principal espécie e acha que vastas áreas de monocultura de olival intensivo (onde se inclui o maior do Mundo, com 12 mil hectares), numa terra tão árida como o Alentejo, é algo de sustentável. Assim, é um país sem futuro, e não por causa da dívida mas sim por perder o território.

Nesse mesmo fio de pensamento parecer-te-á normal, caro Álvaro, apoiares a exploração de gás de xisto (shale gas) no estuário do Tejo quando se sabe que é preciso dar algum tempo até que a exploração do shale não represente, por si só, a destruição da água limpa que está por baixo do solo. Há uma coisa que não te entrará na cabeça, eu sei: a água é mais importante que a energia. A energia tem alternativas. A água não.
A tua famosa frase "A Europa tem regras ambientalistas muito fundamentalistas que prejudicam a nossa indústria e prejudicam o nosso emprego" teve, aliás, uma rara resposta certa da tua colega Assunção Cristas quando lembrou no Parlamento que "não devemos ter a ambição de sermos iguais a outras geografias que, nessa matéria, estão atrás de nós". Claro, Álvaro, a Europa e o ambiente... Para quem está no Canadá a União Europeia é exatamente o quê?

E agora essa ideia da Trafaria? Um 'novo' porto (privado e estrangeiro) em Lisboa que obriga a redesenhar uma via férrea nova e também, evidentemente, desembocará na necessidade de se fazer a nova travessia sobre o Tejo. Curioso: não era o teu ministério que pretendia criar uma linha de mercadorias, urgente, para o Porto de Sines? E afinal vai-se construir um porto de águas profundas quase ao lado, ou seja, em Lisboa?... Mas isto bate certo com o ar do tempo. Também se entregou a ANA a um consórcio que acenou com dinheiro, hoje, e ficou com um monopólio que nos há de custar os olhos da cara durante décadas.

Álvaro, só um pedido mais: quando regressares a Vancouver, passa pela viaduto da zona do porto, ali mesmo, junto à baía (Waterfront) e espreita os comboios de mercadorias de centenas de metros de extensão, com dois contentores (um em cima do outro) em cada vagão. Esses comboios andam em cima de linhas onde também circulam comboios de passageiros, certo? Mas em Portugal, segundo o teu secretário de Estado dos Transportes, isso é impossível... Depois passa os olhos pelos planos do Obama de ir substituindo o transporte de avião pelos comboios mais rápidos (não precisam de ser 'ferraris'). Repararás então que ambas as coisas são possíveis, lá está, sem demagogia. Entretanto fala com os teus colegas sobre essa coisa nova, a Economia do Ambiente. E talvez, para a próxima, voltes ao Governo, mas com um pouco mais de mundo.

Daniel Deusdado, no JN

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