O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Falar claro

1.A campanha eleitoral já começou e não está a correr bem a Pedro Passos Coelho. O líder do PSD está, como diz o adágio, entre a espada e a parede. Sendo que a espada é o défice e a dívida que tem de se comprometer a combater, o que só conseguirá, no imediato, com mais impostos; e a parede são os eleitores que precisa de conquistar para chegar a ser primeiro-ministro, o que dificilmente acontecerá se começar a propor um aumento de impostos.
A dificuldade em construir um discurso que conjugue rigor com alguma dose de esperança tem originado sucessivas contradições. E o último exemplo foi a conferência do movimento "Mais sociedade", este fim-de-semana, no Porto. Enquanto Passos Coelho se esforçava para apontar um caminho que dispense mais austeridade, António Carrapatoso, coordenador do movimento, anunciava sacrifícios adicionais aos portugueses.
Sendo que não há dicionário que os ajude: no actual contexto, austeridade e sacrifício são sinónimos de mais impostos. Ou cortes nas pensões, ou cortes nos salários dos funcionários públicos, ou despedimentos na Função Pública, ou aumento da idade da reforma, ou tudo isto ao mesmo tempo, dependendo do verdadeiro estado das contas públicas. Faria bem o PSD em assumi-lo com alguma clareza de uma vez por todas. No fundo, aplicar a recomendação que, ainda este fim-de-semana, Cavaco Silva fez a todos os partidos, através do Facebook: "Ninguém deve prometer aquilo que não poderá ser cumprido. Prometer o impossível - ou esconder o inadiável - seria tentar enganar os portugueses e explorar o seu descontentamento".
2. Como se conta, hoje, no JN, os doentes da Região Norte ficam mais "baratos" do que os outros. Explicando melhor: na distribuição de verbas pelas diferentes regiões, desde 2006 que o Ministério da Saúde castiga o Norte com um financiamento inferior aos restantes.
Assim, e por cada utente do Norte, o Estado paga apenas 308 euros. Em Lisboa, é mais generoso e avança com 334 euros. Os cidadãos do Centro são por sua vez os mais privilegiados: recebem 380 euros por cabeça. Convém acrescentar que a Região Norte é a única que está abaixo da média nacional. Eu repito, a única. E, finalmente, lembrar que isto não é uma mera curiosidade estatística. Citando os responsáveis da Administração Regional de Saúde do Norte, este tratamento diferenciado, esta menorização dos portugueses que vivem na Região Norte, significa que há cuidados de saúde - consultas, cirurgias ou internamentos - que podiam e deviam ser satisfeitos, mas não são.
3. O F. C. Porto reconquistou o título de campeão de Portugal. Fê-lo, ainda por cima, no estádio do grande rival de Lisboa. O momento deveria ser exclusivamente de louvor a quem ganhou, por ter sido melhor do que os outros. Mas é impossível não notar duas outras coisas: o mau perder de quem mandou apagar as luzes, tentando impedir a festa; e a violência de um punhado de hooligans que pelos vistos ninguém consegue controlar, por mais polícias que se somem. Cenas que se lamentam, mas que sempre se repetem.
JN|Artigo de Opinião

1 comentário:

  1. O discurso de Paços Coelho face à crise económica, ao défice e à divida, é titubeante, mas como poderia ser?

    Sócrates, tem uma proposta com vista à resolução da crise, o PEC IV. Paços Coelho não tem PEC para apresentar e votou contra ele. Assim, importa ao líder do PSD propor uma solução para a crise, apresentar um programa, que ofusque o PEC de Sócrates, o qual – note-se - mereceu aprovação de quem de direito na União Europeia.

    Mas que proposta?

    A tentativa de venda - de forma vantajosa para Portugal - da totalidade ou parte de empresas como a TAP, ANA, RTP, CP, RENFE, etc..., a diminuição de ministérios, de autarquias, de empresas públicas, de lugares de chefia no funcionalismo público, de deputados e outros cargos políticos e a redefinição dos salários dos gestores públicos e dos políticos, é algo com que qualquer pessoa de bom senso concorda, portanto pode ser um princípio.

    Mas não chega.

    Há que desburocratizar, acelerar e agilizar os investimentos privados, há que fiscalizar a banca, dignificar a justiça e pô-la a funcionar de forma célere e sobretudo, há que investir na educação, no que respeita aos conteúdos programáticos e aos métodos de ensino.

    Paradigma, do que é a impreparação cultural e a falta de formação dos empresários e dos políticos, foram os pequenos e médios empresários do norte, que na década de oitenta do século vinte, por via do fabrico de móveis, atoalhados, camisas e sapatos, ajudaram a tornar próspera uma região e serviram de incentivo para muitos outros empreendedores do resto do país. Hoje, pouco resta deles. Fracassaram. Foram vítimas da falta de apoio a que foram votados, da ligeireza com que foram tratados, da promiscuidade entre o poder económico e político, da soberba e da ignorância.

    Falharam os autarcas que inebriados pela expetativa da reeleição - ao tempo virtualmente eterna - fizeram gáudio em mostrar que a esses investidores, nunca ninguém podiam dizer não – eram o motor do país - por mais estapafúrdia e anedótica que fosse a pretensão.

    Falharam os investidores, que iludidos pelo falso brilho dos políticos e das suas verdades sacrossantas, acabaram, muitos deles, insolventes pondo famílias inteiras no desemprego.

    Assim, importa para fazer face à crise em Portugal, apostar fortemente na cultura e na educação, para que situações destas não se voltem a repetir.

    Mas não chega.

    Como muito bem disse Mário Soares hoje no DN “ a União Europeia é hoje governada por líderes políticos que são, na sua esmagadora maioria, ultraconservadores. Os governantes socialistas e os verdadeiros democratas-cristãos escasseiam. É, a meu ver, o que explica que os líderes europeus que têm hoje assento nas cimeiras europeias não tenham tido coragem - nem a vontade política - para mudar de modelo económico. Porque uma tal mudança mexe, necessariamente, com demasiados interesses e poria em causa um certo conúbio malsão entre a política e os negócios, que tem a ver também com o financiamento dos partidos. É, tudo isso, que explica a paralisia das instituições europeias e dos Estados-membros da União. Tenho esperança de que o bom senso colectivo prevaleça e que sejamos capazes, ainda, de salvar o projecto europeu e o euro, como moeda única”.

    Não depende, só de nós, mas depende sobretudo de nós.

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