O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Deceção, esperança e desejo

2013 foi um ano agitado no poder local. À onda de mudança na liderança das câmaras municipais somaram-se as alterações nos níveis supra e inframunicipais. Num balanço agridoce, lamento o estado comatoso da regionalização, deposito esperança nos novos líderes autárquicos e manifesto um desejo para 2014.

A reforma administrativa, frouxa e pouco consequente, ficou-se por uma polémica fusão de freguesias e pela criação das novas comunidades intermunicipais e áreas metropolitanas. O desajeitado plano de Relvas, assim como o não mais jeitoso plano da reforma do Estado de Portas, conseguiram a proeza de ignorar a regionalização, quiçá porque está prevista na Constituição.

Com o final do ano já daqui a um par de dias, tenho de sinalizar o meu desapontamento por esta lacuna nas propostas de reforma que o Governo lançou. Ao contrário do que é sempre defendido pelos centralistas, não penso que este seja um momento desadequado para o início da regionalização. Pelo contrário, é sempre preferível reformar em período de austeridade. O escrutínio é mais apertado, não existe a crença de que o crescimento vai sempre acomodar excessos ou gorduras e os recursos de partida são necessariamente mais escassos. Justamente as condições ideais para um processo magro, eficaz, longe das pretensões megalómanas do passado.

Quem conhece Portugal, a sua mentalidade e, sobretudo, a pesada máquina centralista e centralizadora do Estado sabe bem que um processo de regionalização consensual terá de acontecer gradualmente, num equilíbrio que, em cada momento, permita estabelecer as bases de confiança para os necessários avanços sucessivos. Deverá, todavia, ser preservado um fio condutor político muito claro: mesmo quando a descentralização não se possa fazer por completo, a perspetiva regional deve estar presente nos circuitos de decisão nacionais através da participação de legítimos representantes das regiões. Um ótimo ponto de partida seria o fortalecimento da legitimação dos presidentes das comissões de coordenação e desenvolvimento regional e a sua participação no Conselho de Ministros.

Apesar deste marcar passo, que ameaça eternizar-se, o mundo municipal viveu em 2013 um agitado capítulo da sua história. Por via da lei da limitação de mandatos, a que acresceu o natural descontentamento dos portugueses relativamente às políticas de austeridade do Governo PSD, mais de 200 câmaras mudaram de presidente. Uma revolução, onde entre os novos protagonistas pontuam também vários independentes. A avaliar pelos discursos de tomada de posse, parece existir uma perceção de que se alterou o papel dos municípios face às novas condições e aos novos fatores de competitividade. O discurso da obra física, infraestruturas, equipamentos e urbanização deu lugar ao discurso da economia e da coesão social.

Agora que a poeira das eleições assentou, os novos autarcas enfrentam a realidade. As dívidas, os processos judiciais, as nomeações de última hora, enfim todo um portefólio de problemas que, seguramente, já esperariam. Mas o grande desafio é o planeamento de uma nova geração de investimentos, os tais que se pretendem mais intangíveis. O novo ciclo de fundos comunitários está à porta e 2014 vai ser o ano chave para o desenho de estratégias e projetos que se espera que sejam mais transformacionais que os anteriores.

Neste exercício que se avizinha, há duas ideias de força que devem estar presentes. Primeiro, a de que o município é um facilitador, uma entidade intermediária que procura apresentar a melhor proposta de valor para os seus clientes, os quais para este efeito são os seus residentes, as empresas, as instituições, os investidores, os estudantes e os turistas. Depois, a ideia de que as propostas de valor se expressam no binómio projeto-território. Ou seja, o potencial de utilidade reside nos méritos do projeto para uma determinada realidade territorial, sendo que esta pode ter geometrias variáveis.

No teste prévio do potencial de cada projeto-território importa responder aos sete requisitos sacramentais: é diferente, convincente, adaptável, mensurável, calendarizado, fácil de recordar e defensável? O meu desejo para 2014 é o de que estas questões sejam sempre colocadas antes de cada projeto-território sair do papel.


José Mendes, no JN

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