As sondagens desta semana mostram que se acentua a
descredibilização dos partidos. É urgente fazer política com verdade,
frontalidade e coerência. É urgente que a política esteja ao serviço das
instituições e do povo e não ao serviço dos profissionais dos partidos. É por
isso que vale muito a entrevista de Rui Rio à RTP.
Não foi sequer uma entrevista de fundo para conhecer o seu
pensamento estratégico, mas foi uma conversa que confirmou de forma clara o seu
ADN político e nos fez recordar como há muita hipocrisia na vida dos partidos.
Rio tem feito intervenções alertando para o iminente colapso do
regime. Como podia ficar calado na hora de deixar a Câmara do Porto? Em nome de
que interesses estaria obrigado a hipotecar a coerência e a frontalidade com
que está na política? O que apressadamente foi visto pelos seus adversários
como um ajuste de contas é, de forma evidente, um lavar de alma. Um passo em
frente de alguém que exige a si próprio uma consciência tranquila para
continuar dono do seu destino.
Pode não se gostar dele pelas corridas da Boavista, por simpatia
com os lóbis da cultura, por clubite exagerada ou pelas guerras pegadas com
alguma comunicação social, mas não se pode acusá-lo de ser demagogo na caça ao
voto. As vitórias que obteve foram conseguidas contra tudo o que está escrito
nos livros da política moderna. Não namorou as elites, não coleccionou amigos
jornalistas, não se fez militante de todas as causas nem simpatizante dos maiores
clubes.
Em nenhum dos sentidos está clubisticamente na política. Não vota
no partido a que pertence porque adivinha muito melhor solução para a cidade
numa candidatura alternativa. E o que ganha com isto? Apenas a esperança de
poder estar a contribuir para que o Porto saia vencedor nas próximas
autárquicas. E se tivesse ficado calado, como todos supunham que ia acontecer?
Beneficiaria da "solidariedade" partidária, porque para os que se
portam "bem" há compensações.
Não vale a pena Couto dos Santos tentar convencer-nos de que o PSD
deu a mão a Rio para que ele fosse alguém na política. Esta imagem pública que
os dirigentes gostam de dar de si próprios, de que os partidos servem para
fazer deles alguém, é só mais um tiro no pé. E Couto dos Santos pode até ir ao
baú das memórias recuperar o filme das autárquicas de 2001. Nessas eleições,
foi Rio que deu a mão ao PSD, vencendo no Porto contra todas os lóbis e
sondagens e contribuindo decisivamente para Guterres se demitir.
Não é preciso ser do PSD para ver que a forma como Rui Rio está na
política devia ser um exemplo para toda a gente, mas é preciso ser do PSD para
tirar proveito directo de ter Rio no partido. Basta não ceder à hipocrisia.
Paulo baldaia, no DN
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