Passos Coelho teve uma grande vitória depois de conseguir que o
Presidente da República ressuscitasse o seu governo, dado como irrevogavelmente
morto há já três longas semanas. É a primeira vez que comemora algo na
política, desde a noite eleitoral de 5 de junho de 2011.
O primeiro-ministro, seja por estratégia inteligente seja por
obstinação estúpida, recusou demitir--se quando tudo ruia à sua volta. Este
gesto, tomado contra o senso comum e ridicularizando a tradição politiqueira
lusitana (lembrem António Guterres, lembrem Durão Barroso), candidatou-o, na
alma dos apoiantes e na mente dos mais crédulos, a mártir da Nação.
Aceitou todas as condições impostas pelo instável parceiro de
coligação, Paulo Portas. Todas? Não. Todas menos uma: a revogação da nomeação
da ministra das Finanças, que é o cargo que realmente interessa controlar, pelo
menos até junho de 2014, quando terminar esta primeira fase de subordinação de
Portugal à troika. Na alma dos apoiantes e na mente dos mais crédulos, Passos
Coelho passou a almejar o estatuto de líder agregador e de campeão do diálogo.
Suportou com sorrisos e solicitude a interferência do Presidente
da República, que lhe impunha eleições daqui a um ano em troca da assinatura
com o PS de um pacto que garantisse a paz com o FMI, o BCE e a Comissão
Europeia. Na alma dos apoiantes e na mente dos mais crédulos, formava-se um
político com visão de Estado.
Mandou escrever para texto desse hipotético acordo frases tão
graníticas como esta: "Os três partidos garantem o apoio parlamentar ao
cumprimento das atuais medidas do Programa de Assistência Económica e
Financeira." Toda a austeridade já programada e todos os cortes no Estado
já anunciados não podiam, portanto, ser mexidos. Lapidar. Na alma dos apoiantes
e na mente dos mais crédulos semeava--se um génio da tática política.
Conseguida a rutura socialista, saiu-lhe de uma vez a capitulação
de Cavaco, de Portas e de Seguro, entalados no meio das suas diferentes
contradições e fraquezas, em pânico com o resultado de umas eleições
antecipadas para já. Todos eles, que não são almas apoiantes nem mentes
crédulas, admitem tê-lo à frente do Governo até um longínquo 2015. Passos
celebra a segurança institucional...
Esta história, que resultará, é certo, no aumento do drama social,
da pobreza e da recessão, tem, a terminar, uma triste moral: mais uma vitória
como esta de Passos "Pirro" Coelho e Portugal estará perdido. Para as
almas críticas e para as mentes incrédulas, lúcidas, ganhou o governo de
condenação nacional. Esperemos, apesar das probabilidades, que se enganem.
Pedro Tadeu, no DN
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