A mais recente polémica que se abateu sobre o
Executivo de Pedro Passos Coelho (ou será de Paulo Portas?) arrisca-se a errar
os alvos. Que Joaquim Pais Jorge, recém-nomeado secretário de Estado do Tesouro
e antigo quadro do Citigroup, andou a meter os pés pelas mãos em matéria de
responsabilidade na venda de contratos swap ao Governo de José Sócrates parece
hoje óbvio para todos. Já lá vamos.
Convém lembrar, antes de formularmos qualquer
juízo de valor sobre Pais Jorge, que o agora secretário de Estado foi nomeado
pela ministra das Finanças e é uma pessoa de inteira confiança da também
acossada, curiosamente em matéria de swaps - e de Paulo Portas -, Maria Luís
Albuquerque. Não é decente, por isso, o silêncio da ministra que permite deixar
cozer em lume brando um homem da sua equipa trazido para o Governo, numa altura
que ela própria era o foco da polémica em volta dos contratos de risco.
Outro caso sério em torno de Pais Jorge é o do
seu colega de Governo Pedro Lomba. O secretário de Estado-adjunto do Ministro
adjunto (é assim mesmo a designação, acredite) disse ontem no peculiar,
chamemos-lhe assim, 'briefing' governamental que "foram detetadas
inconsistências, que nesta fase merecem análise e cuidado" sobre a
presença do secretário de Estado do Tesouro "nas reuniões sobre a venda, a
suposta venda, de swaps". Assim, sem hesitação, Lomba anunciava ao país,
em direto nas televisões, que um governante em funções estava a ser alvo de uma
inquirição do Governo para avaliar se se trata, ou não, de um mentiroso. Lomba
foi mais longe ao anunciar que o resultado desta investigação seria tornado
público ainda nesta terça-feira. Perto da meia-noite, nenhuma explicação tinha
sido dada. E, se assim tiver continuado nos minutos seguintes, o que dirá Pedro
Lomba hoje? O que fará o secretário de Estado do ministro Poiares Maduro,
arrojado inventor destes inconsequentes encontros com a imprensa?
Voltemos então a Pais Jorge. Confrontado na
passada sexta-feira num dos já referidos 'briefings' - ainda com Lomba a seu
lado - o secretário de Estado do Tesouro disse nada ter a ver com os swaps que
o Citigroup tentou vender e isto apesar de ser seu alto quadro em Portugal. Tropeçou
nas explicações sobre o seu papel na instituição financeira, mas insistiu que
"não tinha responsabilidades diretas na venda de produtos derivados"
que teriam como objetivo ocultar dívida nacional perante os parceiros europeus.
Além de garantir não ser responsável, Pais Jorge afirmou categoricamente não
ter ideia de ter participado em reuniões em São Bento.
A investigação dos jornalistas da SIC e da
"Visão" deu uma ajuda ao desmemoriado governante. De facto, Pais
Jorge não participou num, mas sim em três encontros com os assessores
económicos de Sócrates.
Não sabemos se a peculiar investigação que
Lomba prometeu tornar pública ontem vai chegar a esta conclusão. Será por isso
prematuro especular sobre o futuro previsível de Pais Jorge. E, já agora, de
Lomba e de Maria Luís Albuquerque. O que sabemos é que ficaria bem ao duo
Passos/Portas investir num polígrafo e sujeitar ao detetor de mentiras, a
partir de agora, os mais que certos candidatos a tapar as inevitáveis brechas
que se avizinham num executivo que não para de nos surpreender pelas suas trapalhadas.
Alfredo Leite, no JN
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