Ninguém me levará a mal que pense com alguma
lógica o que aconteceu na vida política nacional em apenas 24 horas e que
parece ter fugido a toda e qualquer lógica. Que é disso mesmo que se trata
quando alinhamos o relógio dos factos políticos: demissão do ministro de Estado
e das Finanças e número dois do Governo, pedido do líder do PS ao presidente da
República para uma reunião de emergência com o objetivo de debater um cenário
de eleições antecipadas, designação da nova ministra das Finanças, até então
secretária de Estado na equipa do ministro demissionário, anunciada ascensão do
ministro dos Negócios Estrangeiros de número três a número dois do Governo,
demissão do ministro que era presumido ser o novo número dois do Governo,
tomada de posse da nova ministra das Finanças dada pelo presidente da
República. Uf!
Finalmente, à hora dos telejornais, o
primeiro-ministro anunciou ao país que não tinha aceite a demissão do seu novo
número dois e que continuava no cargo.
Qual a lógica disto?
Desde logo, pode ter acontecido que o ministro
das Finanças Vítor Gaspar se tenha demitido por concluir que, para além de ter
falhado sucessivas previsões, também não conseguiria atingir a meta final do
défice, apesar de negociada por várias vezes com a troika, muito menos nas
condições enunciadas pelo presidente da República e toda a Oposição e até parte
do Governo e dos deputados que o apoiam, ou seja, dando alguma folga aos
portugueses e aliviando-os da insuportável carga fiscal que mata o consumo ou
ajudando as empresas a retomar a produção e a criar emprego.
Na mesma lógica, também pode ter acontecido
que, munido do conhecimento do contexto internacional, fruto das suas inúmeras
viagens como embaixador da nossa economia, o ministro dos Negócios
Estrangeiros, Paulo Portas, tenha antevisto o falhanço de Vítor Gaspar no plano
em que o ministro das Finanças mais precisava para satisfazer os compromissos
com a troika: o do indispensável caudal de investimento estrangeiro e o da
descoberta de mercados disponíveis para comprar os nossos serviços e produtos,
sendo que qualquer destes desígnios teria de ser muito mais do que promissor de
modo a garantir que o pós-troika pudesse vir a existir fora dos termos atuais
em que governar Portugal significa exclusivamente cortar, cortar e cortar...
despesa.
Mas se as políticas e os seus resultados
explicam estas demissões, resta encontrar explicação para Passos Coelho se
manter no cargo.
E só parece haver esta: o primeiro-ministro, o
homem, acha que a sua circunstância é mais do domínio do religioso que do
político.
Porém, é certo que um dia terá de responder
aos portugueses: tanto sacrifício para quê?
Manuel Tavares, no JN
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