A demissão de Vítor Gaspar é o resultado
direto de os deputados da maioria não terem acatado o catálogo de argumentos
que o ministro das Finanças lhes enviou com o objetivo de que votassem contra
as dez medidas de apoio às empresas e criação de emprego que o PS apresentou na
Assembleia da República, das quais nada menos de oito foram generosamente
acolhidas pela maioria de apoio ao Governo.
Através da rejeição de duas das dez proposta
socialistas - a da redução do IVA de 23 para 13 por cento e a da revisão da lei
geral tributária para viabilizar os processos especiais de revitalização das
empresas - poderia parecer que os deputados do PSD e do CDS estariam apenas a
encontrar os consensos políticos minimamente aceitáveis como abrangentes, que
ainda caberiam na espartana folha de cálculo de Gaspar.
Acontece que entre as oito medidas aprovadas,
uma delas era certamente intolerável para o então ministro das Finanças:
acossado pelos números do desempenho orçamental, Gaspar talvez não pudesse
aceitar que a CGD se tornasse na fiel depositária das dívidas do Estado às
empresas pagando-as prontamente e dessa missão resultassem custos de médio e
longo prazos que tornassem o banco do Estado menos apetecível. E logo no momento
em que o tema dessa privatização emergiu como uma das possíveis tábuas de
salvação para o cumprimento das sacrossantas metas acordadas com a troika.
Ninguém saberá ao certo o que ocorreu e a
história está cheia de momentos em que circunstâncias diversas, ditadas por
razões muito diferentes, acabam por convergir num resultado que verdadeiramente
ninguém podia antever. Por exemplo: o facto do PS ter etiquetado as suas dez
medidas como de "custo zero" tornou muito difícil a vida aos
deputados da maioria.
Mas o que talvez valha a pena reter é que
Gaspar tinha dado todos os sinais de que não seria homem para patrocinar a
redução da carga fiscal necessária para as famílias e as empresas poderem
respirar. O seu modelo de contas com o exterior era alheio às consequências,
por assim dizer. Ao mais puro estilo da economia de guerra, as perdas estavam
destinadas a ser catalogadas como danos colaterais ou males menores: os
empobrecidos, os falidos, enfim o país das pequenas e médias empresas, dos
pequenos e médios aforradores, dos pequenos e médios consumidores.
Haverá outras interpretações para esta
demissão e a mais óbvia será a que obedece ao ditame de que em política o que
parece é: Portas! Porque no plano mediático foi o grande opositor de Gaspar.
Basta recordar os episódios da TSU e dos reformados para apoiar essa visão das
coisas.
Não tardaremos em saber: a reforma do Estado,
que está nas mãos de Portas, dir-nos-á se era o social que o separava de
Gaspar. Ou não.
Manuel Tavares, no JN
Sem comentários:
Enviar um comentário