Através de um acesso
simplificado ao ensino superior, o regime ‘maiores de 23’, foram muitos os
milhares que concretizaram um sonho adiado: ter uma licenciatura. Este é um
tipo de aspiração que pode agora ruir e perder-se na enxurrada da crise.
Milhares de
trabalhadores no ativo chegaram pela primeira vez ao ensino superior. Tendo
abandonado a escolaridade no secundário há décadas, mas com uma experiência
profissional rica, decidem agora complementar com conhecimentos teóricos a
experiência prática da sua rica vida laboral. Louvável! Um segundo grupo de
alunos ‘maiores de 23’ é constituído por reformados que pretendem enriquecer
esta fase das suas vidas, valorizando a sua componente intelectual. A estes
vieram ainda juntar-se, por simpatia, outros que haviam desistido das suas
licenciaturas a meio do percurso. A integração destes alunos no sistema de
ensino superior constituiu um desafio. Um desafio plenamente superado. Apesar
de muitos não estudarem há muitos anos, o seu entusiasmo rapidamente os fez
recuperar a ginástica mental. Compensaram as fraquezas com a sua férrea
vontade.
A integração destes
novos alunos com quarenta, cinquenta ou mais anos de idade num sistema
frequentado maioritariamente por jovens de vinte foi surpreendente. A
intergeracionalidade foi talvez a maior vitória deste inovador regime. Os mais
jovens transmitem aos mais velhos os conhecimentos científicos mais recentes,
ajudam-nos na informática. Os mais velhos comunicam aos mais novos o saber de
experiência feito, ensinam-nos a superar as dificuldades da vida. Este modelo
veio permitir o casamento de uma juventude hiperativa com a ponderação própria
de idades mais maduras. Com as dificuldades dos últimos tempos tem-se assistido
à debandada de muitos dos alunos ‘maiores de 23’. Uns porque têm de trabalhar
mais tempo para defender os seus empregos, outros porque ficaram desempregados.
Alguns reformados abandonam, pois o orçamento familiar já não permite o
pagamento de propinas. A vida de todos fica mais pobre. Financeiramente, mas
sobretudo intelectualmente.
Deste modo, falsas
medidas de combate à crise chegam ao ponto de inibir o conhecimento. Assim, o
subdesenvolvimento tornar-se-á irreversível.
Por:Paulo Morais, Professor Universitário, no CM
Sem comentários:
Enviar um comentário