O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


quarta-feira, 11 de julho de 2012

O bosão para lá do Marão

O Mundo fixou ontem os olhos no famoso bosão de Higgs, também conhecido por "Partícula de Deus", nome que pretende tirar o fenómeno do estrito campo da Física - vista pelo comum dos mortais como uma coisa estranha e só acessível a grandes crânios - para o trazer para o campo muito mais delicado dos valores que enformam a vida de todos quantos acreditam na existência de Deus.

Basicamente, o bosão de Higgs é a última peça do puzzle para completar o modelo que tenta explicar a formação do Universo. Os cientistas têm optado por manter prudência em relação à descoberta da decisiva partícula, mas a comunidade científica ontem regozijou-se com os resultados alcançados. O próprio diretor da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla francesa) afirmou que "este marco histórico é apenas o início", que tem "implicações globais para o futuro".

Portanto, não faltam razões para estarmos atentos ao decorrer da investigação, capaz de nos explicar, se tudo correr bem, como nasceu esta coisa chamada Universo.

Confesso que, tendo seguido as notícias sobre o tema, os meus olhos se fixaram numa outra. Culpa das rugas cravadas na cara de uma idosa transmontana e dos movimentos que as mãos calejadas pela rudeza do seu passado faziam para explicar, na televisão, o que acabara de lhe calhar em sorte.

Explicava a senhora que, com a extinção pela CP do serviço de táxis de que as populações do Tua beneficiavam, como alternativa à supressão do comboio, ela está agora obrigada a "gastar 8 contos" (40 euros) sempre que tiver de se deslocar à sede do concelho. Ora 40 euros vezes duas ou três saídas mensais para ir ao médico estouram-lhe a parca pensão.

Gente que, como esta senhora, teve um passado cravado de miséria, esquecimento e isolamento merecia que os dias de hoje corressem sossegados. Não correm. Não correrão. Enquanto entidades como a CP puderem quebrar, unilateral e impunemente, protocolos que garantem algum bem-estar aos que sofrem na pele os custos da interioridade, os dias só tenderão a piorar.

A CP acabou os transportes alternativos a 1 de julho, dando conta da supressão do serviço num aviso com dois parágrafos colocado na página da Internet. E foi um pau. Podia não ter explicado nada, que nada aconteceria aos administradores que tão diligentemente pouparam, com esta estrutural medida, um balúrdio: 125 mil euros/ano.

Para lá do Marão já há muito que não mandam os que lá estão. O provérbio identitário caiu em desuso, por força do rolo compressor que reduziu drasticamente a riqueza da região e o número de almas que nela habitam. O Mundo andou - e está à beira de saber como nasceu o Universo. Para lá do Marão, o Mundo parou. Já quase só sobra gente incapaz de reagir a humilhações como esta da CP.

Paulo Ferreira, no JN

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