A dívida e o défice abriram a caixa de Pandora onde estavam guardados todos os medos portugueses.
A dívida e o défice abriram a caixa de Pandora onde estavam guardados todos os medos portugueses. E o nosso maior medo é o fim do Estado que todos protege e que sempre foi a mão amiga que afagou as costas de muitos interesses políticos, económicos e sociais. Os portugueses detestam o Estado mas têm medo de o perder. O Estado português sempre jogou com o tempo. Mas o tempo joga contra ele. Não é por acaso que o funcionalismo público se tornou o churrasco preferido do Governo. Vai pagar pelo que fez e pelo que não fez. A crise portuguesa forneceu o álibi perfeito para a vingança contra o Estado que tantas vezes foi o soro que alimentou quem agora o apunhala. A crise vai servir para gaseificar o Estado social. E depois o que resta dele: a saúde e a educação tendencialmente gratuita, o 13º e o 14º mês. Dentro de alguns anos tudo isso será arqueologia industrial para ser estudada por alunos que tiram cursos para serem desempregados de luxo. Ao deserto criado chamar-se-á paz. Mas, como lembrava Maquiavel, "é defeito comum dos homens não ter em conta a tempestade quando o mar está calmo". O ruído vai crescer, até porque este Governo tem um défice: não explica as medidas. Pode martelar, e bem, Sócrates pelo beco sem saída que nos legou para alimentar quem usufruiu do Estado. Mas tem também de explicar o que faz, o que quer e para onde vai.
A eliminação da dívida e do défice só se farão, a prazo, quando equilibrarmos as importações com as exportações, o nosso maior drama. Mas se isso se fizer à conta da pobreza e da recessão sem fim a calma terminará. E a tempestade surgirá
Fernando Sobral - fsobral@negocios.pt
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