Albert Einstein considerava existirem duas
coisas infinitas: o universo e a estupidez humana. Embora em relação à primeira
tivesse algumas dúvidas, o génio teria, na semana que passou, factos de sobra
para sustentar a sua teoria. E não consta que a astronomia tenha dado qualquer
passo especialmente relevante nos últimos sete dias para nos pôr a olhar o
universo com outros olhos.
A questão é outra. Tudo começou com a
espantosa revelação de um peculiar Código do Animal de Companhia, que
atormentou tantos e tantos portugueses. O documento do Ministério da
Agricultura, certamente minucioso, pode resumir-se a isto: um apartamento não
poderá albergar mais do que dois cães. Assim, Assunção Cristas propunha-se muscular
uma lei que existe mas que os especialistas consideram frágil. E débil
continuaria, se o dito código avançasse (parece que não vai acontecer), já que
admite a existência num apartamento T0 de dois mastodônticos exemplares do
dog-alemão, mas proíbe a convivência num T5 de três minúsculos e fofos
yorkshire-terrier. O caso virou pândega e ainda bem.
Agora que a ministra não tem de se preocupar
com a distribuição de canídeos na casa de cada um de nós, sobra-lhe tempo, por
exemplo, para tentar convencer a sua colega da Justiça a acabar com a
sobrelotação nas cadeias nacionais, que albergam mais reclusos do que a sua
capacidade, em condições, muitas vezes, abaixo de cão. Ou para catequizar Nuno
Crato para o facto de um número excessivo de alunos por sala de aula tornar o
ar irrespirável e a prática pedagógica de eficácia duvidosa.
Esta cómica incursão zoológica não foi, no
entanto, a única a aliviar-nos a alma dos problemas quotidianos. A entrevista
do patrão da FIFA foi ainda mais circense. Nela, o onomatopeico Blatter
ridicularizou Cristiano Ronaldo falando do dinheiro que o craque português
gastaria no cabeleireiro, para, logo a seguir, explicar a sua preferência pelo
rival Lionel Messi. A performance quase cambaleante de Blatter teve uma
virtude. Passámos a conhecer a independência do líder do organismo mundial do
futebol. E a saber que ele se preocupa mais com os tostões (e devem ser muitos)
que Ronaldo gasta no barbeiro do com os cinco milhões que Messi deveu ao fisco.
Mas em matéria de parvoíce global, a semana
foi ainda mais profícua. Quase um monumento àquela coisa que para Einstein nada
tinha a ver com o universo. Soube-se que Bárbara Guimarães e o filósofo Manuel
Maria Carrilho se iam divorciar, resolvendo (mais ele do que ela) trazer para a
praça pública escabrosas questões privadas a roçar a demência, que alguma
imprensa sem escrúpulos aproveitou até ao tutano.
Na semana passada, soubemos igualmente que o
chefe da troika, Kröger, que defende o aumento da idade da reforma em Portugal,
se reformou da Comissão Europeia com 10 mil euros/mês e foi contratado a seguir
para ganhar perto de 500 euros/dia. Nada, se comparado com a performance
semanal do presidente venezuelano.
Nicolás Maduro decidiu, imagine-se, antecipar
o Natal e acender a iluminação do palácio presidencial para promover a
"felicidade". Na Venezuela, como até em Portugal, a felicidade não é
um estado de espírito despiciendo: lá, os bens alimentares estão a faltar e a
inflação sobe em flecha.
Para combater essa evidência, Maduro criou, ao melhor estilo
norte-coreano, o Vice-Ministério para a Suprema Felicidade do Povo, além de
anunciar novas visões do defunto Hugo Chávez.
A culminar a piadética jornada, Paulo Portas
anunciou no Parlamento, numa declaração de otimismo sem fim, que, "a
partir de junho de 2014, haverá vida para além da troika". Mas isso não
tem nada a ver com o que se tem estado a falar.
Alfredo Leite, no JN
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