O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O Mundo está a mexer, e nós a ver

O Mundo está a mexer mas a verdade é que, no meio da nossa crise e angústias, nos fomos talvez desleixando e vendo menos o seu movimento.

Os Estados Unidos, por exemplo (mas também o Brasil), viraram de forma decidida para o continente asiático, de onde percebem sinais importantes de futuro. E o "futuro", esse, mostra tendência curiosa para acelerar, antecipando desenvolvimentos que só esperávamos, de forma algo burguesa, para daqui a algumas décadas.

E nós, por cá?

Nós, por aqui na nossa Europa, deixámo-nos apanhar pela mania de quase só olharmos para o umbigo, seja por efeito da crise que corrói sociedades e valores, seja por efeito da anemia que tomou de assalto a União Europeia e em que não se descobre mezinha que a consiga afastar. Assim, quando um dia arranjarmos tempo para parar e pensar, arriscamo-nos a descobrir que não somos relevantes como futuro, que somos cada menos relevantes como presente. E que, no limite, somos somente passado.

Agora, hoje, e devido a processos de alteração profunda dos poderes internacionais, aquilo que vai ocorrendo no continente asiático tem um impacto muito mais direto, nítido e imediato num plano global do que há uns anos.

A China, segue o seu caminho. Sabe que o tempo corre a seu favor e, muito pragmática, consegue em paralelo harmonizar uma determinada forma (que diz manter, claro) com uma substância cada vez mais diferente. Veja-se como, num espaço de dias, foi capaz de festejar com solenidade o 120º aniversário de Mao Tse Tung como depois, pela mão do legislador, acabar com os campos de reeducação e, no essencial, com a aberrante política do filho único. O líder agora festejado, estou certo, não gostaria nada destas evoluções, e quem lhas tivesse proposto bem faria em só dar tal passo se tivesse as costas muito quentes ou se entendesse já ter vivido o suficiente. Hoje, no entanto, o "velho" Mao continua a ser uma referência unificadora, cada vez mais icónica e menos ideológica, e a sociedade chinesa convive bem com tal circunstância. Mao no mausoléu, a mudança no terreno: pouco a pouco, como convém a um poder que, como acima disse, não tem pressa.

Já mais dificuldades em digerir o passado recente tem o Japão, por muito que diga o contrário. A questão, já se sabe, está relacionada com o papel desempenhado por aquele País logo antes e durante a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha, a bem ou a mal, conseguiu muito melhor essa digestão, porventura porque o que fez foi mais visível e "próximo". Mas, sem atingir os patamares de horror dos nazis, as forças japonesas cometeram atrocidades: sem ir mais longe, penso na "violação" de Nanquim e na prática miserável das "mulheres de conforto".

Sobre tudo isto pesa um manto muito ambíguo. Na recente visita feita a um monumento aos mortos japoneses em combate, é claro que o Primeiro-Ministro japonês não podia ignorar que também estava a honrar criminosos de guerra, cujos nomes lá estão gravados. Não podia ignorar, depois, que com tal gesto estava a provocar a China e a Coreia do Sul, cujos povos tanto sofreram às mãos das tropas imperiais japonesas. Junte-se a este gesto a discussão interna sobre a (re)militarização japonesa perante a "ameaça" do poder bélico chinês e teremos uma desagradável sensação de déjà vu. Um mau déjà vu, por sinal.


Azeredo Lopes, no JN

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