Foi em 1415, o ano da conquista de Ceuta? Ou
um pouco mais tarde, em 1453, quando Constantinopla caiu às mãos do Império
Otomano? As opiniões dos historiadores dividem-se quanto ao acontecimento que marca
o fim da Idade Média. Há até os que preferem situá-lo em 1492, quando Colombo
achou a América julgando que estava a chegar à Índia.
Assinalar marcos cronológicos ajuda à
compreensão do passado e facilita a exposição de conhecimentos. Mas pode ser
prejudicial se a importância das datas-baliza não for contextualizada.
O assassinato em Sarajevo do arquiduque
Francisco Fernando deflagrou a I Guerra Mundial porque foi a faísca que fez
explodir o barril de pólvora que a Europa era em 1914. E ao contrário da versão
simplex de Sócrates, o Mundo não mudou em 15 dias, após a falência da Lehman
Brothers, que foi apenas a gota de água que fez transbordar um copo cheio pelas
vigarices e malfeitorias cometidas por um bando de financeiros gananciosos
deixados à rédea solta pelos governos.
Eu costumo indicar a compra do BPA pelo BCP,
finalizada em março de 1995, como o acontecimento que marcou o início do
declínio do Norte e, por arrastamento, do resto do país. Mas a transferência
para Lisboa de um dos últimos centros de poder que resistiam fora da capital,
bem como a sua concentração em mãos aventureiras (a história recente do BCP
encarregou-se de dar razão às profecias de João Oliveira), foi apenas o ato
final da tragicomédia do processo de privatizações conduzido por Cavaco.
Em vez de favorecer a consolidação dos grupos
privados emergentes, que tinham despontado a Norte após o 25 de Abril, Cavaco
preferiu entregar bancos, seguros e grandes companhias, nacionalizadas no calor
da revolução, a capitalistas jarretas sem capital, que apenas tinham prosperado
à sombra dos favores do salazarismo - e/ou encher os bolsos de comissões e
mais-valias a uma corte de laranjinhas sequiosos de dinheiro e poder.
Como sou otimista e confiante no futuro, quero
acreditar que a constituição do banco de fomento, prevista para o final da
primavera e que coincidirá com a partida da troika, será a data que assinalará
o fim do período de estagnação e sacrifício em que vivemos.
Em vez de apostar no jackpot do Euromilhões,
prefiro depositar todas as fichas da minha esperança no banco que a partir do
Porto vai aumentar a liquidez numa economia exangue e assim tentar compensar os
efeitos perniciosos do enorme aumento de impostos, da colossal redução da
despesa e da brutal crise de crédito que em três anos retirou 14 mil milhões de
euros de financiamento às PME.
Para criarem emprego e aumentarem ainda mais
as nossas exportações, as empresas precisam do sangue do crédito a preços
competitivos e maturidades razoáveis que lhe tem sido negado pela generalidade
da Banca. Religiosos ou não, todos rezamos para que o banco de fomento seja o
remédio eficaz para a doença do crédito escasso e caro - e a ferramenta que nos
ajude a fazer com que esta crise entre em crise e passe à História.
Jorge Fiel, no JN
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