O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Fome e combate ao desperdício


O processo de reenquadramento financeiro do país não tem corrido a par de decisões no âmbito económico capazes de amortecer enormes estragos. Os efeitos práticos das decisões têm sido dolorosos e deles tem resultado uma resistência feita na base de uma economia de guerra. Isto é: as várias perdas - de trabalho, de poder de compra, de famílias estruturadas e por aí fora - têm obrigado à tentativa de um contrabalanço pela via da frugalidade.
Os resultados de um tal método estão longe de ser recomendáveis. À recessão soma-se recessão e abrem-se brechas cada vez maiores por entre as quais a sociedade surge mais e mais cambaleante, contabilizando danos escusados.
Nas aldeias, vilas e cidades de Portugal a atividade comercial e industrial definha todos os dias. E todos os dias surgem novos escombros aos quais fica associada uma garantia: a cada um deles corresponde menos economia e mais desemprego e miséria.
Por muito mediatizada, a retração no setor da restauração é, talvez, a mais notada. Sem dinheiro nos bolsos o povo tem trocado os restaurantes pelas marmitas nos jardins públicos ou empregos e as refeições em casa. Sobra-lhe a vantagem do maior convívio, no contraciclo às falências de mais e mais restaurantes e bares.
Do encadeamento das dificuldades nada de bom é possível augurar enquanto não surgirem políticas alternativas - e de rotura.
Notório exemplo: o fim noticiado pelo JN do "Direito à Alimentação", um programa altruísta desenvolvido pelos restaurantes aglomerados numa associação representativa (a AHRESP) e que permitiu entre 2011 e 2012 fornecer 45 mil refeições gratuitas a pessoas carenciadas de 91 concelhos de Portugal. A inflexão do negócio, a troca involuntária do lucro pela penúria e a falência de milhares de empresários puseram fim a um elo mais da cadeia indispensável da solidariedade de um país em dificuldades. Nenhuma boa intenção é possível de ser levada à prática sem meios realistas para as viabilizar.
A impossibilidade de prosseguir o "Direito à Alimentação" é só mais um aviso sobre as sequelas de uma austeridade praticada sem escapatórias - no caso vertente fazendo o setor da restauração acumular falências e desempregados. O alerta deve, porém, ser também aproveitado para a alteração de alguns métodos de vida e para os quais é uma tontice culpabilizar o programa de ajustamento em curso. Basta recordar o facto de se estimar em um milhão de toneladas o desperdício de alimentos por ano para se considerar indispensável a modificação de comportamentos. Naturalmente dos que ainda dispõem do direito (regalia?) ao sentimento de posse.

Fernando Santos, no JN

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