O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Um país entre a ironia e o ridículo

Quase sempre pelas boas razões, Portugal tem merecido destaque regular na conceituada "Monocle", revista atenta a (quase) tudo o que se passa no nosso mundo. Na edição que marca a transição de 2012 para 2013, fomos referidos pelo ridículo.

A publicação, que faz questão de se assumir como "um briefing sobre assuntos globais, negócios, cultura e design", coloca Portugal em 23.oº lugar do seu "Soft Power Survey" e perspectiva um certeiro e algo irónico futuro para o nosso país: "Será preciso mais do que lojas a vender pastéis de nata a nível mundial para transformar a imagem de Portugal".

Ao invés do ministro-autor da patética proposta para a internacionalização do país à base do franchising de um pastel (que ele pensa ser de excelência mundial), a revista refere no essencial os nossos links com os países da lusofonia (com Brasil e Angola no topo) como uma das vias para pularmos do atoleiro onde Álvaro Santos Pereira e outros que o antecederam nos meteram. Ao conseguir com que um relevante órgão de comunicação internacional retenha sobre o país a ideia peregrina de um governante que parece acreditar que o valor de um pastel se sobrepõe a tudo aquilo que Portugal foi, é, e, sobretudo, poderá ser, Álvaro teve apenas o mérito de internacionalizar o disparate.

O caso seria menos grave se o ministro estivesse só nesta cruzada. Mas não está. Outros há que o seguem trocando o disparate pela ironia.

Querer dizer eficazmente o contrário do que se afirma é um exercício de retórica ao alcance de poucos e, por isso, manda o bom senso que a utilização desta técnica arriscada seja feita com peso, conta e medida. Em política, ironizar é uma arte discursiva ainda mais complexa e dominada por muito poucos, por exigir do emissor uma clarividência tal que permita ao receptor interpretar a mensagem sem qualquer margem para equívocos.

Ao desvalorizar ironicamente os seus silêncios quando, na verdade, os pretende exaltar - como fez recentemente Cavaco Silva -, o presidente da República voltou a enveredar por um caminho sinuoso que manifestamente não domina e que, de quando em vez, tem exposto o mais alto magistrado da nação. O ridículo é ainda maior quando o presidente da República assume o papel de um qualquer António Sala radicado em Belém (do palácio e não dos pastéis exaltados por Álvaro Santos Pereira) e nos diz isto: "Todos sabem que o silêncio do presidente da República é de ouro. Hoje a cotação do ouro foi 1.730 dólares por onça, uma onça são 31 gramas, mais 1,7% do que a cotação do ouro naquele dia de setembro em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da conjugação de três letras do alfabeto português: "tê, ésse, u" (TSU)".

Desconheço a cotação do ouro neste arranque de semana, mas sei o valor do silêncio do presidente da República. Os assessores de Cavaco, provavelmente, também ainda não o informaram da oscilação do valor do nobre metal, até porque não é crível que vão usar a mesma metáfora de gosto duvidoso num qualquer discurso que estejam a preparar para o chefe de Estado. O que todos sabemos é que Cavaco tem mantido silêncios sobre assuntos em relação aos quais o queremos ouvir. Ou ler, se pretender optar por um post no seu facebook. Continuamos à espera.

Alfredo Leite, no JN

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