O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Banho de realidade


O alargamento do prazo para o reembolso da dívida às instituições europeias é uma boa notícia que tardou demasiado a chegar. Desde o início do actual processo de ajustamento, houve quem duvidasse da razoabilidade das metas estabelecidas no memorando de entendimento. Esse cepticismo não decorria, em muitos casos bem pelo contrário, de uma discordância de fundo relativamente ao que se prescrevia. O que estava em causa era o ritmo a que as correcções deviam ser introduzidas e as expectativas quanto aos seus efeitos. As características estruturais da economia portuguesa e a evolução da economia europeia que, já na altura, se podia antecipar tornavam inevitável a concessão de mais tempo e a redução dos custos. Se, num primeiro momento, o argumento da necessidade de readquirir credibilidade tornava aceitável que o Governo não quisesse agendar a revisão dos termos do memorando, os sucessivos desvios entre os resultados alcançados e os previstos tornam difícil compreender por que se continuou a fazer de conta que tudo estava a decorrer normalmente e que se tratava apenas de fazer alguns ajustamentos pontuais. Essa teimosia, fruto do dogmatismo, tem tido resultados desastrosos. Sem uma estratégia, Portugal tem vogado ao sabor de ajustamentos circunstanciais, de curto prazo, que se limitam a constatar que a casa está a arder e a tentar apagar mais aquele fogo. Se o Governo não está isento de culpas, a maior responsabilidade recai na troika, incapaz de reconhecer os erros técnicos do programa ou de o ajustar à dinâmica da envolvente internacional e, sobretudo, de o enquadrar num processo de ajustamento estratégico sustentável e compatível com a preservação de um regime democrático. Actuaram como meros credores. Impuseram a sua vontade, os seus modelos, descurando o tempo e a história.

Tenho más notícias para eles. Chegados ao ponto a que chegamos, ainda que as reformas estruturais venham a produzir efeito, não se vê que as mesmas venham a gerar um potencial de crescimento que nos permita pagar a dívida entretanto acumulada. Sem um perdão parcial da dívida ou uma descida acentuada do seu custo (ou uma combinação das duas condições), o bem-estar dos portugueses (e o regime democrático?) estará comprometido por muito mais de uma década, por mais esforços que continuem (e têm de continuar!) a ser feitos no sentido de racionalizar a despesa pública. Não é um palpite. Basta olhar para o país real. A nossa microeconomia, empresas e pessoas, tem um potencial limitado, e mesmo esse continua condicionado por políticas industriais erráticas (e mal desenhadas, como Gaspar gosta de dizer) e, em especial, pela ilusão de que os problemas do crescimento têm uma solução na macroeconomia. Quanto mais persistirmos em fantasiar que estamos no caminho certo e em aplicar remendos pontuais, vogando sem rumo, sem metas exigentes mas perceptíveis, mobilizadoras e viáveis, tanto mais longo, doloroso e, por fim, falhado será o processo de ajustamento. Se aprendermos alguma coisa com o primeiro resgate (feito tarde e "com as calças nas mãos"), é tempo de confrontar a troika com aquele cenário, tirando dele todas as consequências. Não se trata de não querer, trata-se de não poder. É certo que nos falta uma estratégia para o crescimento que não iluda escolhas mas que possa ser plural. Como base de negociação talvez bastasse um documento mais comezinho, explicitando os vários cenários decorrentes de diversas alternativas de cumprimento do memorando de ajustamento. Um documento consensual no arco governativo, nos parceiros sociais e na Presidência da República. A partir dele quiçá fosse possível negociar o que hoje é considerado impossível. Até porque não estamos sós, como começa a ficar patente.

AEuropa está infestada de líderes fracos que, como mostra a história, se refugiam em dogmatismos potencialmente perigosos pela adesão ou reacção extremista que podem gerar, hipotecando o projecto europeu. Quiçá Portugal possa dar um contributo para recolocar a política na agenda europeia. Poiares Maduro alimenta-nos essa esperança.

Alberto Castro, no JN

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