O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pobre Grécia. Até já

A primeira linha desta crónica é para sublinhar um facto que se tem mantido desde 15 de setembro: o comportamento da Polícia nas manifestações tem sido de grande resistência às agressões, a um nível incomparável do que se vê por exemplo em Madrid.

Obviamente, o ideal seria não haver confrontos. Todos perdemos alguma coisa quando Portugal é isto. Mas a fúria ficou à solta. O Governo mostrou a sua face com a TSU e em seguida não conseguiu mais do que um "enorme aumento de impostos" sem nada a acompanhar que nos traga alguma luz ao fundo do túnel. Por isso estes espasmos sociais, esta desgraça progressiva.

Daí a greve, mais uma. E quanto a esse ponto, a verdade é que quase todos podíamos fazer greve para demonstrar o descontentamento face ao impasse em que estamos. Mas muitos milhões de portugueses, apesar de frustrados com o caos pós-TSU, trabalharam ontem porque têm esperança de que não seja preciso paralisar o país e perder cada vez mais riqueza para que algo mude. Isso não significa que não haja uma cada vez maior unanimidade nacional quanto à insuportável cumplicidade do presidente da República. Mas o presidente da "equidade" tornou-se na 'Mona Lisa' da democracia.

Para enquadrarmos o ponto em que estamos, temos mesmo de olhar para a Grécia e perceber que, enquanto país, já não existe. É já um caso de ajuda humanitária urgente e por isso Isabel Jonet conseguiu dizer uma coisa inimaginável em Portugal: que a miséria grega está a um nível tal que a nossa realidade é apenas pobreza, por grande que seja. E Isabel Jonet diz isto porque é a pessoa responsável, neste momento, por instalar um Banco Alimentar de urgência na Grécia. Ou seja, sabe do que fala - ao contrário de tanta gente que a critica.

Os jornais internacionais têm trazido casos absolutamente gritantes da fome e tragédia helénica. Hospitais em colapso, milhares de pessoas que perderam a possibilidade de receberem cuidados de saúde pública, médicos que tratam clandestinamente doentes sem acesso a medicamentos, alguns com doenças terminais num sofrimento extremo. Centenas de milhares de crianças com fome nas escolas, que por sua vez não têm ferramentas básicas (como papel!) para fazer funcionar as aulas. Ainda por cima, a troika impõe novos apertos nos gregos enquanto a dívida galopa até aos 190 por cento do PIB. Isto tem saída? Não tem, toda a gente sabe e só um despertar europeu em redor de uma "ajuda humanitária internacional" à Grécia impedirá a sua expulsão do euro e/ou da União Europeia.

Por isso mesmo era importante que Cavaco Silva percebesse urgentemente o que está em causa e pusesse fora do poder um Governo que não tem um projeto. Pior: acentua a cada dia que passa, de forma desesperada, uma clientela de interesses que vai instalando no Estado e que se perpetua através da legislação que produz. Uma corrida contra o tempo particularmente evidente na área dos recursos naturais, por exemplo, onde as decisões sobre estimular a plantação de eucaliptos por todo o país, restringir as reservas ecológicas ou permitir o esventramento mineiro são atitudes inimagináveis num país europeu que percebe o caos climático para o qual caminhamos.

Nas questões das Finanças, o Governo não está apenas a falhar no controlo da despesa. É sobretudo a forma como não percebe que é necessário olhar para a Grécia e ver que, no método, nada já nos separa daquele fim exceto uma questão de tempo. Porque o processo de descrença de empresários e trabalhadores no país necessita de um plano credível para dar um sentido ao trabalho e ao investimento. Para que o único pensamento sensato na boca de toda gente não seja "emigrar".

Nada é mais fundamental, como disse Miguel Cadilhe, que renegociar toda a dívida para o muito longo prazo, com juros muito mais baixos, de forma a que a nossa escalada de dívida não passe dos 120%, em que já está. E claro, exportar, trabalhar e cortar nalguma despesa no Estado. Estamos no último momento para evitar a espiral irreversível rumo ao caos. Por favor, sr. presidente, decida-se.

Daniel Deusdado, no JN

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