O "Fórum das Regiões", defende uma Região Norte coincidente com a actual região-plano (CCDR-N) e um modelo de regionalização administrativa, tal como o consagrado na Constituição da República Portuguesa.

O "Fórum das Regiões", considera a Regionalização o melhor modelo para o desenvolvimento de Portugal e para ultrapassar o crescente empobrecimento com que a Região Norte se depara.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A economia em coma e nós, sós

A 30 de junho de 2011 Vítor Gaspar anunciou o corte do subsídio de Natal a toda a gente. No dia seguinte, o ambiente nas ruas era frio, apesar de ser verão. As pessoas tinham sentido pela primeira vez o fantasma da austeridade radical que aí vinha. Depois avançou-se para o corte aos funcionários públicos e pensionistas, aumentos do IVA (brutal no caso da restauração) e a economia começou a cair inexoravelmente. O desemprego nunca mais parou de subir. Mas a 7 de setembro deste ano, com o anúncio da TSU por Passos Coelho, o país gelou completamente. Entretanto a TSU cai mas chega a notícia do aumento do IRS, o do IMI e de mil coisas que não sabemos bem quais. Como se fosse assim: 'Ai não querem a TSU? Então tomem lá!'. E aí está a náusea. Um atordoamento. Estamos a tentar recuperar o quê? A economia? E a confiança para que isso aconteça?

O Governo lançou-se no precipício. Passos não tem nenhuma coisa boa para anunciar em concreto. Gaspar perdeu-se nos erros grosseiros das previsões falhadas do Orçamento de 2012. Com Cavaco a jogar 'mikado' com a crise, ficamos sós perante políticos que não sabem realmente o que fazer.

Sairmos daqui é muito mais difícil do que antes do anúncio da TSU. Até ali éramos o bom aluno da Europa. Hoje no "Financial Times" já somos o novo cancro escondido da Europa. A diferença é 'apenas' esta: os mercados perceberam que os portugueses perderam o ânimo, falharam todas as metas, precisam de mais tempo, vão precisar de mais dinheiro e, por fim, também um tão desejado/indesejado perdão de parte da dívida. É a Grécia, cá.

Mudar isto passa pela capacidade em exportar, e nesse campo temos feito quase tudo bem mas é muito pouco para nos tirar daqui. Já o corte das rendas excessivas dos grandes monopolistas tem corrido bastante mal. As portagens não desceram, o custo da energia vai ser cada vez maior porque os novos investimentos em barragens inúteis vão infernizar a conta nos próximos 30 anos, os combustíveis liberalizados funcionam em cartel implícito e, infelizmente, o país não está a fazer uma mudança acelerada de mobilidade tendo por base os transportes públicos. É sabido que 75% da nossa fatura energética é para gasolina e gasóleo. Não cortar aqui é continuar a atirar dinheiro pela janela. Cada um de nós deposita diariamente muitos euros nos bolsos de algum 'sheik' ou magnata russo e continua a cavar um buraco na conta das empresas de transportes públicos.

Por isso é preciso um coisa diferente: não adianta falar em crescimento. Não adianta prometê-lo. Não é possível para já. Temos de tentar alternativas: aquilo a que se chama 'less is more'. É empobrecer? Depende como olhamos para as coisas de que precisamos de abdicar. Exemplos: mais sustentabilidade ambiental e económica através de menos importações. Menos dívidas através de menos consumo supérfluo. Menos carros, portagens nas cidades, melhor ocupação dos transportes públicos, melhor eficiência energética (já repararam no crime sem nome que significa a EDP acabar com a tarifa bi-horária?). Precisamos de mais agricultura de proximidade, melhor escola (custa zero), mais gente a procurar oportunidades lá fora para responder a menos consumo interno, aeroportos bem geridos pelo Estado de forma a serem competitivos para o turismo e empresas exportadoras, bons portos, fixação de tetos máximos na energia e combustíveis - sozinhos eles enganam-nos. O Estado, obviamente, tem de reduzir alguma dimensão mas sem abandonar tudo aos leões do costume.

Sobretudo, se fosse possível escolheria uma medida, uma só, optaria por esta: acabar com o dinheiro físico. Os cartões são a solução inteligente e Portugal é o país da Europa ideal para experimentar esta medida. É a única maneira de atirar ao coração da economia paralela. Poderia criar-se um banco estatal só para gerir contas e sem comissões. Bastaria isto para mudar quase tudo nas contas públicas.

Estamos num beco onde a saída não é por onde estamos a ir. Há algum Governo disposto a mudar o paradigma económico? A queda desta República (e da União Europeia) vai ser coincidente com a queda do atual modelo económico. Está na hora de pensar diferente. É preciso coragem.

Daniel Deusdado, no JN

Sem comentários:

Enviar um comentário